19/05/2017

Como falar com raparigas em festas

(Des)encanto






A reunião de três nomes grandes da BD mundial - Neil Gaiman, Fábio Moon, Gabriel Bá - numa mesma obra, só podia despertar grandes expectativas.
A leitura, ressentiu-se disso.
Como atractivo extra, havia a informação que esta foi uma obra disputada por um trio de editoras portuguesas - mais uma evidência do bom momento que a BD vive entre nós.
Da escrita de Neil Gaiman, havia a esperar um ambiente entre o maravilhoso e o fantástico, com informação subentendida e uma grande abertura à capacidade interpretativa dos leitores.
Dos gémeos brasileiros Bá e Moon - de quem sou admirador confesso e seguidor desde as primeiras edições em livro dos 10 Pãezinhos (há já quase uma década!) - esperava o habitual grafismo anguloso mas ágil e delicado, especialmente expressivo e servido por cores belas e suaves. Uma temática socialmente comprometida, em parte baseada na sua experiência pessoal ou reflexo dela, eram também pontos a comprovar.
Estimulado ainda mais pelo resumo da obra - “Enn tem 16 anos e não compreende as raparigas, ao passo que o seu amigo Vic parece já ter tudo na ponta da língua. Mas ambos apanham o choque da sua vida ao depararem com uma festa em que as raparigas são muito mais do que aquilo que aparentam ser…” - que prometia tudo o que atrás descrevi - embora à partida não o tenha entendido totalmente… - mergulhei na leitura.
Encontrei o belo traço dos irmãos, a combinação de realismo e fantástico resultante do encontro das temáticas que os desenhadores e o argumentista costumam abordar, diálogos muito bem escritos, concisos, credíveis, que nos guiam calmamente pelo relato, mostrando o que há para ver, deixando no ar o que só o leitor pode intuir.
No final, no entanto - no entanto? - ficou uma sensação de algum desencanto. Talvez porque elevei demasiado as minhas expectativas, talvez porque esperava mais de uma obra que se revela curta em páginas, talvez porque queria mais respostas concretas e menos amplitude à minha interpretação…?
O que, em curiosa oposição, não é sinónimo de uma leitura menor ou desinteressante. Porque, curta de páginas, com sabor a menos do que eu queria, Como falar com raparigas em festas encantou-me e revelou que, às vezes, a capacidade de surpreender pode servir de contraponto - feliz - àquilo de que sentimos falta.

Como falar com raparigas em festas
Neil Gaiman (argumento)
Fábio Moon e Gabriel Bá (adaptação e desenho)
Bertrand Editora
Portugal, Abril de 2017
173 x 263 mm, 64 p., cor, capa dura
ISBN: 9789722533133
14,40€

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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