23/06/2017

Elogio da continuidade

  


 (continua) sim

Hoje, olho para ele sob outro prisma, tão ou mais importante: a continuidade das séries em publicação.
Durante anos - décadas - um dos grandes problemas de quem comprava álbuns de BD no nosso país era a incerteza quanto ao futuro de uma série. São dezenas os exemplos que se podem apontar de colecções que se ficaram pelos volumes 1 e/ou 2 - ou, pior ainda, pelo 5 e o 12 ou o 3 e o 8…
Os anos recentes têm trazido alguma mudança, também - inevitavelmente? - neste aspecto e hoje vou citar três exemplos - e felizmente há mais.

Michel Vaillant
Rebelião
Philippe Graton e Denis Lapière (argumento)
Marc Bourgne e Benjamim Benéteau (desenho)
A publicação da 2.ª série das aventuras do mais famoso piloto da BD começou no segundo trimestre de 2014. Hoje, pouco mais de três anos volvidos, a ASA - que tinha no seu currículo muitos dos pecadilhos apontados acima - acaba de editar o sexto volume da série, tendo acompanhado até agora, nem sempre em simultâneo, mas sempre com proximidade, as edições originais franco-belgas.
Com uma nova estrutura, mais próxima da das séries televisivas, esta segunda vida de Michel Vaillant, cujo grafismo repete (ou reinventa) limitações e tiques já (re)conhecidos, dá mais força às relações entre as pessoas, relegando para um plano secundário - ou pelo menos equivalente - as questões desportivas.
Em Rebelião, se o enredo fica marcado pelo regresso do piloto às pistas - e logo nas míticas 24 Horas de Le Mans - as consequências da morte de Jean-Pierre, vão bem além do sentimento de perda e da dor que ela causa, com consequências a diversos níveis, entre os quais a forma como afecta os relacionamentos familiares. E com uma verdadeira ‘bomba’ que explode na página final do álbum que, sendo de alguma forma conclusivo, deixa uma grande interrogação pendente para o título seguinte, como tem sido apanágio até agora.
ASA
Portugal, Junho de 2017
222 x 295 mm, 54 p., cor, cartonado
14,95 €


Assassination Classroom
Vol. #8 Hora da Oportunidade
Yusei Matsui
Em Julho de 2015, A Devir lançava o primeiro tomo de Assassination Classroom. Agora, nem dois anos depois, são já oito os volumes disponíveis.
O ponto de partida é conhecido: a pior turma de uma escola japonesa recebe um novo professor, um extraterrestre, que é necessário abater para evitar que destrua o nosso planeta.
Entre os planos rocambolescos para assassinar um ser que parece invulnerável, o relacionamento entre os diversos alunos, a empatia que criam com o professor - e vice-versa - e o quase documentário sobre as desigualdades existentes no sistema de ensino japonês, esta série tem mantido as características que a distinguiram: humor nonsense, acção q.b. e a capacidade de surpreender uma e outra vez.
Devir Portugal
Abril de 2017
126 x 190 mm, 192 p., pb, capa mole
9,99 €


Velvet
Vol. #3 O Homem que roubou o mundo
Ed Brubaker (argumento)
Steve Epting (desenho)
Obviamente, melhor que dar continuidade às séries - embora obviamente seja consequência disso - é terminá-las.
Velvet, que a G. Floy iniciou em Setembro do ano passado, chega agora ao final. Foram só - só? - três volumes (correspondentes a 15 comics) mas em menos de um ano.
Velvet é uma história típica de espionagem - daria um belo oo7, do qual se distingue essencialmente pela protagonista feminina - e decorre entre os anos 50 e 70, sob o signo da Guerra Fria.
Alternando no tempo, para acompanharmos a acção presente, na qual Velvet é perseguida, acusada do assassinato de um operacional da agência onde é agora secretária, e o passado, onde ela procura respostas que lhe permitam compreender o que lhe está a acontecer, esta é uma aconselhável trilogia de acção, que se lê de um folego, muito bem escrita por Ed Brubaker, à vontade no género, e com o belo desenho hiper-realista de Steve Epting.
Entre as suspeitas, as traições, as poucas amizades que restam e o comportamento interesseiro de alguns, o leitor vai acompanhando Velvet numa viagem no tempo - três décadas, no espaço - pela Europa e EUA - e na História, pela forma como Brubaker alicerçou nela o relato, querendo saber sempre mais e mais até o desfecho final. Que já está disponível!
G. Floy
Portugal, Junho de 2017
175 x 260 mm, 128 p., cor, capa dura
9,99 €

Os novos tempos da edição em Portugal, se mostram determinação diferente por quem edita, não garantem que tudo que começou vá acabar. O contornar dos escolhos que sempre surgem durante a navegação - da não adesão dos leitores às mudanças contratuais que as editoras originais vão querendo introduzir - serão razões válidas para que tal não aconteça.
Parece-me que, no mínimo, os leitores podem começar a confiar nos editores e perder o medo de acompanhar o que ainda vai no início. Os sucessivos volumes de diversas séries em publicação, a par de exemplos - acabados! - como Velvet, DeathNote, Fatale ou Allyou need is kill, que vêm à memória sem esforço, são motivos de alento e confiança.
É necessário corresponder-lhes.

(imagens disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as aproveitar e toda a sua extensão)

8 comentários:

  1. Confio até deixar de confiar. Noutro comentário já referi que a Levoir e a GFloy aparentam ter descoberto a forma de imprimir e vender livros a preço convidativo. Para além disso, até agora ainda não falharam. Como tal, continuam a merecer a minha confiança.
    Mas com toda a sinceridade (e nada, mas nada mesmo me move contra a editora, antes pelo contrário espero que triunfe), desconfio que a Arte de Autor não irá conseguir editar todo o Corto e toda a Druuna. Porque creio que estará a funcionar com base na venda do primeiro volume para editar o segundo e por aí adiante.
    Relativamente à ASA, já perdeu credibilidade para mim à muito tempo (Escorpião, Blacksad, etc...)

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    1. Blacksad estao todos editados. Ja o escorpião €£<€#%}%#£%££#

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    2. O último Blacksad é da Arcádia....

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  2. Muito importante este aspecto. Aliás no passado cheguei a desistir de comprar edições portuguesas por esse mesmo motivo.

    Filipe Simões

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  3. Tenho mais um spam?

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    1. Estava lá, estava, mas já corrigi!
      Boas leituras!

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  4. A arte de autor está a fazer um bom trabalho e tem potencial para continuar.

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  5. Coisa rara,com muito run e ciclos sem fim.

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