04/07/2017

As melhores histórias de Donald & Patinhas

Alargar a oferta (II)


Podia começar este texto da mesma forma que o fiz há dias: ‘Por contraditório que possa parecer, acredito que um mercado em que existe diversidade de oferta - como acontece actualmente em Portugal em relação à BD - está mais receptivo a propostas diferentes, do que aquele que se centra sobre um único segmento. Este livro (…) é para mim exemplo disso.’
E também - quero frisar - uma das boas surpresas e - mais ainda - das boas edições de 2017.
Subvalorizada, estereotipada, acusada de infantil e de leitura menor, a banda desenhada Disney tem recorrentemente sido injustiçada, se bem que nos últimos anos - nas décadas recentes mesmo - se tenham multiplicado as evidências de quão erradas aquelas acusações são.
As melhores histórias de Donald & Patinhas por Don Rosa, para mais numa bela edição como esta que a Goody disponibilizou - mas a que falta, no mínimo, as datas originais de publicação, e, já agora, um texto introdutório que situe estas histórias num contexto mais amplo - são mais um exemplo. E mais um exemplo também da genialidade do autor - escritor e desenhador - Don Rosa, que foi capaz de beber nas grandes obras dos patos Disney - onde à cabeça brilha Carl Barks - para no-los apresentar de novo – mas quase também como pela primeira vez - em todo o seu esplendor.
A um desenho cuidado, pormenorizado e rico, revelado no tratamento e caracterização dos protagonistas antropomórficos e dos cenários em que evoluem (e onde por vezes 'acontecem' pequenos gags colaterais), correspondem histórias coerentes no seu contexto fantasioso, diversificadas, ricas de conteúdo e no aproveitamento da realidade como base mas também divertidas, imaginativas e fantásticas.
Uma cúpula gigante para ‘secar’ o fundo do mar, a transposição de Arséne Lupin para o universo Disney, a mitologia indiana, a lenda do El Dorado ou as sempre criativas e complicativas invenções do Pardal, capazes de levar os patos tanto ao centro da Terra como a serem reduzidos ao tamanho de grãos de pó, são exemplos que proporcionam uma leitura apetecível, em muitos aspectos surpreendente, que se exige atenta e revela estimulante, a todos os que colocarem de lado os pruridos latentes e se abeirarem deste livro de mente aberta.

Nota final
Claro que não é de um dia para o outro que o mercado cresce e que todos aprendem a (com)viver nele. Exemplo (im)perfeito - e perfeito exemplo dos preconceitos acima referidos - é o facto de em lojas FNAC - e onde mais? - este livro ter sido colocado na secção infantil dos 4 aos 6 anos e não junto das outras edições de BD, a cujos compradores - pela dimensão, qualidade e preço é dirigido.
O crescimento do mercado que admiramos e que queremos sustentado, passa, também, obrigatoriamente pela ‘educação’ dos seus agentes, sejam eles editores, distribuidores, leitores ou livreiros.

As melhores histórias de Donald & Patinhas por Don Rosa
Don Rosa
Goody
Portugal, 7 de Junho de 2017
220 x 285 mm, 192 p., cor, capa dura
18,90€

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

13 comentários:

  1. Ontem fui a uma FNAC.
    Procurei o referido livro
    Nas estantes de BD
    Nas estantes Juvenis
    Nas estantes Infantis
    E fui-me embora....

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    1. Na FNAC de Gaia, onde o procurei pela primeira vez, esgotou rapidamente. O mesmo deve ter acontecido noutros locais...
      Boas leituras!

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  2. uma bela edição, com o senão da falta de textos de enquadramento que já referiste. algumas opções também incompreensíveis, como na primeira história fazer-se referência à memória da máquina fotográfica cheia!- Caramba, todos sabemos que as máquinas fotográficas das histórias dos patos são de película, analógicas!!!! há mais uma ou outra situação do género de que agora não me recordo. enfim... falta de cuidado. já agora, alguém sabe se nas revistas mais antigas o Patinhas também surge como Patinhas MacPatinhas? Eu teria optado por Patinhas MacPato!!!

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  3. Mais uma vez os meus parabens por uma belissima edição desde a escolha das histórias até à qualidade do livro em si (tipo de papel, impressão, capa dura). 19 euros bem gastos. Espero que se sigam mais volumes de Don Rosa e, quem sabe, Carl Barks. Por acaso não comprei o meu na Fnac, comprei-o na Barata da avenida de Roma onde estava em lugar de destaque entre as novidades da semana e não na secção infantil. E posso dizer que os exemplares que lá estavam não duraram muito.

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  4. Pedro, gosto de ver o mercado assim. No entanto, já vi isto e parece-me que estamos a ficar deslumbrados com uma realidade que não pode existir. O nº de publicações de BD que estão a surgir desde 2012 não reflecte de qualquer forma o nº de leitores que existem realmente.

    Não quero ser alarmista, mas parece-me que a edição de tanta, mas tanta coisa vai acabar por esgotar o mercado. Eu comprei a edição que falas e sou um consumidor de toda a bd, mesmo toda.

    Tenho no entanto uma preocupação que já comentei com o José de Freitas:
    - os preços por vezes não são realistas, para edições de capa dura e acabamento requintado. Isto vai penalizar a produção de banda-desenhada portuguesa, que não consegue competir com estes números. Eu vou editar dois livros este ano e vão ser caros comparativamente com os 9.99€ que andam por aí.

    Espero que o mercado consiga englobar estas mudanças sem que os autores nacionais se afastem. Essa é a minha preocupação, uma vez que tenho dois livros este ano e mais projectos para o futuro.

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    1. José Pina4/7/17 16:58

      Fernando, não vás por aí por favor. Há algum mercado que cresça sem procura? A sério? Acreditas mesmo nisso? Se há algo de bom nos "mercados" é que se as pessoas querem, aparece, se as pessoas não querem, desaparece. É óbvio que é muito difícil competir com os preços da divisão espanhola de uma multinacional que imprime na Polónia e tem base fiscal no paraíso fiscal das Canárias. Mas as pessoas compreendem isto e são até bastante benevolentes. A salvat continua a vender bem, apesar de ter livros caros. Só o facto da devir continuar viva, apresentando em alguns livros o pvp mais elevado da europa, é a prova que o mercado português tem ainda boa folga. O que é preciso é que a oferta se adapte aquilo que as pessoas querem, e revele inteligência. Há dez ou quinze anos, os livros iam acabar e só iamos ler no digital. Este ano, a feira do livro teve a maior participação de sempre. Fazer previsões catastróficas é sempre muito arriscado.

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    2. Depende do livro a salvats que valem bem a pena tipo X-men Cisma com mais comics que hc original e outros fininhos tipo Terra das Sombras que não valem tanto a levoir e g floy seguem o mesmo raciocínio.
      Quanto aos precos a uns anos ouve polémica semelhante com tpbs importados,

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    3. Fernando,
      Eu nunca vi o mercado assim - e ando nisto há mais de 30 anos . e também tenho algum receio.
      Acreditando que será inevitável alguma contenção mais ano menos ano, há dois aspectos que me sossegam um pouco:
      - por um lado, a compartimentação do mercado; no tempo da Meribériuca e da ASA, só se editava franco-belga, logo o público-alvo era apenas um; agora, acredito que há leitores para super-hjeróis, outros para manga, outros para franco-belga e, claro, outros que fazem a ponte entre vários géneros, assim como acredito que há leitores que não são exclusivamente de BD, que vão comprando algumas edições nomeadamente romances gráficos.
      - por outro lado, as pequenas tiragens das edições, cujo lucro é potenciado pelas actuais facilidades de produção e, nalguns casos, pelas co-edições ou colecções com jornais, são mais facilmente escoáveis.
      A conquista do respeito dos leitores, através da continuação de séries regularmente, é também um bom indicador.
      No meio disto, continua a haver muitas editoras que têm de fazer um percurso mais difícil: a Kingpin e a Polvo serão bons exemplos, a Devir também apresenta edições com um preço acima das já referidas.
      Aos autores portugueses cabe conquistar o seu espaço e uma boa (auto-)promoção, com sessões de autógrafos em festivais, lojas, eventos... pode ser uma das soluções.
      Boas leituras!

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    4. José Pina.
      Globalmente de acordo, especialmente no facto de que o mercado terá de se ajustar aos leitores que realmente existem e em busca dos quais as edtoras neste momento andam.
      Boas leituras!

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  5. Na NOTE do continente, foi lá que comprei e estava na secção de bd.

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    1. A Goody esteve atenta à questão da exposição e actuou junto dos livreiros quando necessário para a corrigir.
      Boas leituras!

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  6. Anónimo5/7/17 21:52

    Parece-me que, através das mangas da devir, se está a construir um novo publico, que acabará por se interessar por BD "convencional". Isto vai lá!

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  7. Eu vi este livro à venda na Fnac de Gaia e no Continente de Gaia e em ambos os sítios estava na estante da BD e não na secção infantil.
    Quando ao livro em si, apesar de 2 pequenos erros, achei excelente. Don Rosa é um excelente autor e espero que a Goody não pare por aqui, quero mais livros do género tanto de Don Rosa como de Carl Barks.

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