12/01/2018

Corto Maltese: Equatória

Inevitabilidade




Era inevitável - seria mesmo? - que depois de Blake e Mortimer, Lucky Luke, Astérix e um largo etc., também Corto Maltese fosse embarcado na voragem autofágica da banda desenhada francófona sobre as suas próprias criações em nome do mediatismo, do sucesso financeiro e da nostalgia. Ou tão só, como ancoras seguras para as editoras se manterem vivas…
Se o primeiro álbum - Sob o sol da meia-noite - assinado por Juan Días Canales e Ruben Pellejero, obrigava a uma comparação apertada com o original de Pratt - da qual se saíram bem - aos poucos essa matriz esbater-se-á e cada novo título terá de valer por si só.
Ainda em trânsito neste percurso entre dois pontos, Equatória - que a Arte de Autor oportunamente lançou em simultâneo com a edição original - revela prioritariamente uma maior apropriação da personagem pelos novos criadores, que aos poucos vão demarcando o seu terreno, embora sempre à sombra do universo de Pratt.
Pellejero revela-se mais solto, com um traço legivelmente muito eficaz e uma contida renovação visual que contribui para alguma distanciação, com alguns bons achados gráficos, uma planificação tradicional muito funcional e uma clara melhoria a nível da cor - embora o preto e branco continue a ser o ideal para exibir todas as cores de Corto.
Díaz Canales também surge mais livre, num relato cronologicamente anterior aos de Pratt (com excepção de A Juventude), que tem a viagem por mote e é balizado por encontros, desencontros e acasos que a um mesmo tempo surpreendem e seduzem os leitores que se deixarem embarcar.
Na inevitabilidade desse afastamento do original, sabendo que ele nunca se concretizará totalmente, se o impulso será sempre ‘encaixar’ Equatória algures numa ordenação de obras protagonizadas por Corto Maltese, o lucro para o leitor será maior se ler o álbum apenas por ele só, desfrutando e descobrindo o que ele tem para (lhe) dar.

Corto Maltese: Equatória
Juan Díaz Canales (argumento)
Ruben Pellejero (desenho e cor)
Arte de Autor
Portugal, Outubro de 2017
230 x 305 mm, 80 p., cor, capa dura
18,65 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Continuo a não perceber porque continuam a macaquear a arte de Pratt de uma altura em que a mesma começava a decair nos anos 80, talvez por razões da doença. Este sucedâneo será sempre um pastiche, uma pálida imitação. Podemos ver apenas usando o exemplo da primeira prancha que é decalcada da dissolução pictorial da primeira prancha da aventura Leopardi, chamem-lhe homenagem, eu chamo de parvoíce.

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  2. As novas aventuras de Blake & Mortimer são mais bem sucedidas, inovam de uma maneira interessante. Astérix morreu com Goscinny, não tem piada nenhuma depois disso, chegando a ser boçal, existe um novo Lucky Luke? ok, bravo! desde que começou a usar a palhinha abichanada na boca que deixei de ler.


    Pedro S.

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  3. A mim so nao me apanham a ler os novos corto por causa do preço... Teria todo o gosto mas assim nao me conquistam

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  4. Caro? não acho nada caro, as edições da ASA sim eram caras, mesmo as de capa mole, andavam pelos 27, 28€, estes novos, o Sol da Meia-Noite e o Equatoria andam pelos 16€, tendo em conta que são edições de capa dura...

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