15/01/2018

Le Collectionneur de Briques

Tijolo a tijolo





Fiel à sua formação de arquitecto e aos temas recorrentes na sua obra (esparsa) com ela relacionados - a construção, o urbanismo… - Pedro Burgos edifica uma história em que uma estranha obsessão por tijolos é o tema central e o ponto de partida para uma análise a temas recorrentes dos dias que correm.
Le Collectionneur de Briques narra como um arquitecto - desempregado devido à crise e sozinho na vida - se dedica a acumular tijolos na sua casa (bem localizada) em Lisboa - para gozo de vizinhos e desespero do seu genro que pretende vender o imóvel por bom dinheiro.
Abordando tangencialmente o urbanismo selvagem, o envelhecimento das habitações, a desertificação dos centros urbanos, a especulação imobiliária, a valorização do estatuto e o afastamento crescente das famílias, Burgos desafia-nos com um enredo enigmático em que a (aparente) principal questão - o que vai o velho homem fazer com tantos tijolos? - acaba por se revelar secundária face à importância dos relacionamentos ou da falta deles e à necessidade de objectivos ou sonhos para resistirmos à pressão social crescente em nome do dinheiro e da despersonalização.
Graficamente, o autor português abdicou voluntariamente das habituais estruturas centradas em tiras e vinhetas, para construir pranchas aparentemente complexas - alusivas à obsessão que rege o protagonista? - mas cuja leitura se faz de forma fluída, natural e narrativamente muito eficaz.

Le Collectionneur de Briques
Pedro Burgos
6 Pieds Sous Terre
França, Maio de 2017
167 x 225 mm, 56 p., pb, capa mole
EAN: 9782352121299
10,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. pena é que esses trabalhos de tantos portugueses que são excepcionais e conseguem se afirmar noutros países, parecem ser de insuficiente qualidade para serem valorizados pelos nossos e serem publicados por cá.

    Letrée

    ResponderEliminar
  2. Senhores editores, para quando a edição em português?

    Luís Campos

    ResponderEliminar