14/02/2018

Frères d’Armes


Espelho




Num mês - Janeiro - com poucas novidades, as leituras foram feitas à custa de edições deixadas para trás em 2017 ou até ‘esquecidas’ ao longo dos anos.
Na ‘limpeza desses montes’, surgiu este Frères d’Armes, compilação de duas histórias, unidas pela sua origem… indiana e pela temática comum: os conflitos regionais à sombra dos extremismos globais.

Se a primeira, Cachemire, demasiado vazio e previsível, não me deixou marcas nem saudades, já Kerala foi diferente.
Baseia-se num reencontro - e num inevitável confronto que porá em causa a relação de sangue que entre eles existe - de dois irmãos que a vida separou. Hamid, a viver na Escócia há mais de uma dezena de anos, graças aos esforços que a sua família fez para lhe proporcionar uma vida melhor devido às suas capacidades e à sua dedicação aos estudos, e Rashid, que desde cedo (também) trabalhou para o (sucesso do) irmão e cuja permanência no país o forçou (?) para os dúbios caminhos do extremismo muçulmano.
Mais do que um relato sobre opções de vida voluntárias ou conscientes, esta é uma história sobre escolhas que a vida e as circunstâncias fazem por nós - relevando sempre que a decisão final é nossa e podemos sempre escolher e lutar - até de forma não violenta - pelo que desejamos.
O ponto de partida é o falecimento da avó que faz com que Hamid regresse a Kerala para encontrar uma situação social e política completamente díspar daquela que deixou. Entre ele e o irmão - símbolos de formas de vida diferentes, quase opostas - vão acumular-se as tensões, as dúvidas, as desconfianças, amenizadas umas vezes, exacerbadas outras, pelas recordações de uma infância que já antevia o choque - a certa altura enquadradas por um registo histórico quase documental que enriquece o relato mas também o torna mais lento. Toda esta situação acabará por desembocar num desfecho trágico não provocado, mas possivelmente inevitável - face às circunstâncias e motivos que conduziram cada um deles à situação presente.
Centradas na realidade local mas com as inevitáveis ligações à situação mundial e ao crescimento do extremismo islâmico que há uma dezena de anos já era uma realidade, estas duas obras, com grafismos com limitações e carácter semi-documental, acabam por constituir mais duas peças num puzzle global indisfarçável, que a banda desenhada também tem ajudado a retratar.

Frères d’Armes
Cachemire
Naseer Ahmed (argumento)
Saurabh Singh (desenho)
Kerala
Abdulk Sultan P.P. (argumento)
Partha Sengupta (desenho)
Casterman
França, Janeiro de 2009
170 x 240 mm, 216 p., cor, capa mole com badanas
16,00 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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