04/07/2018

Deadpool #1


Manetas, cegos, corcundas e outros





Bouncer é maneta, Matt Murdock é cego e o de Notre Dâme era corcunda. E, felizmente, Deadpool é um sacana que não hesita em pôr (aqueles e outr)os nomes aos bois.
[Pronto, desabafei. Nestes tempos do enjoativo politicamente correcto, em que qualquer piada - por mais parva e ingénua que seja - vem sempre acompanhada por um “era a brincar” e em que palavras desde sempre utilizadas parece que podem provocar um holocausto nuclear, atingi o limite quando o corrector do word me sugeriu substituir ‘maneta’ por algo do género ‘pessoa com um braço a menos’...]
Escrito isto, passemos à dissertação - palavra pomposa - sobre o conceito de mini-série e a dificuldade de escrever Deadpool.
Para mim, o conceito de mini-série - associado à indústria de comics norte-americanos, embora não de forma estanque - é uma história completa dividida por vários números, geralmente isolada do título regular (quando este existe), embora possa corresponder a um arco (mais ou menos) fechado nele integrado.
Esta ‘mini-série’ do Deadpool, no entanto, é um apanhado de uns quantos números da revista do super-herói - uma verdadeira ‘misturada sem juízo’! E, por isso, contém várias narrativas, quase todas mais ou menos estanques, é verdade, mas dispares em tom e tipo de enredo. Como (infeliz) excepção, surge a conclusão do Deadpool 2099, que tinha sido iniciada na I, que surge aqui desgarrada e sem fazer grande sentido.
Quanto à segunda parte do pressuposto acima exposto, Deadpool deve ser, hoje em dia, um dos super-heróis mais difíceis de escrever, no difícil equilíbrio entre o seu lado super-heróico e a permanente pose de sátira que assume. Quando esse equilíbrio não é conseguido, torna-se uma série difícil de levar a sério e cuja leitura atrai pouco (como exemplo apresento os números #2 a #4 desta ‘mini-série’, em que o tom adoptado combina mal com o humor aplicado).
Felizmente, neste número inicial - com excepção do tal ‘restinho’ do Deadpool 2099 - os argumentistas estavam bem inspirados e o encontro do Mercenário Desbocado com o Demolidor, leva a uma série de bocas e atitudes - politicamente (muito) incorrectas! - que gozam - literalmente - com a sua deficiência física e as suas consequências.
É uma narrativa que leva Deadpool, Luke Cage, Punho de Ferro e o Demolidor a uma lixeira, à procura de um portátil com provas contra um criminoso, deitado ao lixo por desleixo, no meio de “fraldas sujas e papas de aveia fora de prazo”, mas está longe de ser uma ‘história de caca’, como alguns poderão pensar.
É um relato curto, sem dúvida, para quem gosta de super-heróis puros e duros, mas revela-se uma leitura divertida e bem-humorada, que não é para levar a sério nem deixa ficar sério, para quem (ainda) consegue passar ao lado dos extremos que - neste e noutros aspectos - a sociedade actual nos quer impor.

Deadpool #1 de #4
Misturada sem Juízo
Duggan, Soule e Walker (argumento)
Camagni, Sanna, Bondoc e Diaz (desenho)
Goody
Portugal, 22 de Maio de 2018
168 x 260 mm, 128 p., cor, capa mole, mensal
7,90 €


(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Pedro, cuidado com o Sr. Castanho!!!!

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  2. Anónimo7/7/18 14:08

    Já não há pachorra para Deadpool.... Publiquem outras coisas da Marvel.

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