26/07/2018

Jessica Jones: Pulsar

Humanizar os super-heróis


Um casal a tentar acertar a sua relação, os primeiros passos num novo emprego, uma gravidez inesperada - mas não indesejada - a preparação de um casamento.
Pode não parecer - não parece mesmo nada! - mas este é o resumo de um livro de super-heróis da Marvel. Humanizados, a um nível raramente atingido.
A protagonista é Jessica Jones, ex-super-heroína, ex-vingadora e ex-detective privada, a iniciar nova etapa como jornalista do Clarim Diário, mais exactamente no seu novo suplemento Pulsar, dedicado aos super-heróis.
O casal, é formado por ela e por Luke Cage. Com avanços e recuos. Com muitas dúvidas e algumas certezas. Apesar de tudo, apesar de todos, apesar de ambos saberem que não têm feitios fáceis e que o passado e o presente - a vida de super-heróis - paira como uma sombra. Entre ameaças concretas e conspirações difusas.
E o bebé, é o fruto dessa relação, o seu nascimento uma decisão a ser sopesada em função das premissas atrás descritas e de outras - comuns a todos nós.
Bendis consegue conciliar esta trama tão humana com o tradicional Universo Marvel. Insere a relação de Jessica e Luke - principal - no meio dos - secundários - habituais confrontos e ameaças que os Vingadores e os outros enfrentam. Encaixa os diversos momentos de Pulsar, naquilo que na Marvel se passava na época - e os leitores beneficiarão se tiverem esse conhecimento, mas o desfrutar da leitura é independente dele. A sua escrita solta leva o leitor, fá-lo familiarizar-se com o mundo da protagonista, partilhar as suas dúvidas, a certa altura põe-no a torcer para que tudo termine bem!
Num volume que reúne 14 comics originais, é curioso como - vamos deixar de fora o último nesta análise - é curioso, escrevia eu, como o grafismo vai evoluindo, acompanhando as mudanças de artistas, deixando sucessivamente o traço mais limpo, brilhante e expressivo da dupla Bagley/Hanna - mais próximo do registo tradicional da Marvel - até despontar no grafismo sujo, sombrio e indefinido de Gaydos - aquele que já conhecemos - devemos conhecer! - tão bem da etapa seguinte de Jessica: Alias.

Integrais
E de repente, mais aproximadamente numa mão cheia de anos, nem isso - como escrevi há pouco tempo, analisando o mercado sob outro prisma - passamos a ter edições integrais em Portugal. Este Pulsar, como The Ghost in the Shell, como The Fade Out, em belas edições - pesadas, consistentes, (muito) apetecíveis, a bom preço (para o número de páginas em causa) - que permitem ler de uma só vez obras - nalguns casos já clássicas - que na altura própria não chegaram até cá.
Dirão muitos - com razão - que faltam - e faltam ! - ainda - ainda! - integrais franco-belgas. Concordo, subscrevo, mas temo que não haja mercado para esse segmento. É isso que me diz a actual dinâmica editorial, mas espero estar enganado...

Jessica Jones: Pulsar
Edição integral
Reúne os comic originais Pulsar #1 a 9 e #11 a 14 e New Avengers Annual (2006)
Brian M. Bendis (argumento)
Mark Bagley, Michael Lark, Brent Anderson, Michael Gaydos e Olivier Coipel (desenho)
G. Floy
Portugal, Maio de 2018
175 x 260 mm, 360 p., cor, capa dura
25,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

10 comentários:

  1. Esses integrais franco-belgas é que eram muito bem vindos,... há muitas boas obras como por ex. o Elric, esta BD adapta muito bem o livro do Michael Moorcock, está perfeita. Como o mais certo é não sair por cá, tive que me virar para o importado, em inglês.

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  2. Não quero parecer mal agradecido, gostei do Fade Out, e há um porradão de anos que compro Absolutes e Oversized editions mas...

    ... Jessica Jones já enjoa, Bendis e os seus balões já começam a fazer-me vomitar dentro da boca vezes demais, os personagens parecem idiotas a fazer muitas pausas entre as frases.

    Uma sugestão: editar o trabalho do Jeff Lemire e Andrea Sorrentino no Green Arrow, existe uma DeLuxe Edition com 460 páginas que ia bem nesta nova série de publicações especiais.

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    1. Uma das consequências do actual estado do mercado é que não podemos comprar tudo... Temos de seleccionar. Ou, melhor, talvez, PODEMOS seleccionar.
      Boas leituras!

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    2. É bom termos essa opção sim, até há pouco tempo atrás tinhamos uma oferta muito reduzida.

      A minha perspectiva é mais naquela de serem edições tão boas que podiam estar vocacionadas para algo melhor, sei que é subjectivo mas algumas nem valem o papel onde são impressas e tendo em conta que as saídas são lentas...

      De certeza que este Alias terá muitos compradores apenas não faço parte deles.

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  3. O mercado também se constroi. GFloy, Goody, Levoir souberam construir o mercado Comic e prepará-lo para estas edições integrais. Nomeadamente, não falhando nas edições de séries, deixando-as a meio.

    Não sei se as actuais editoras de FB terão vontade ou capacidade de fazerem o mesmo e não me parece que os actuais adquirentes de BD em Portugal (que pela minha observação empírica estão a ir para velhos), estejam adquirentes de integrais FB. Porque provavelmente já têm os albuns originais ou mesmo os integrais em francês.

    Pessoalmente, em termos de comics em geral tenho alguns contras: detesto mudanças nas fisionomias das personagens SOBRETUDO dentro de um mesmo livro e começo a ficar de pé-atrás quando vejo 6 nomes como autores de uma obra...
    Ressalvo apenas que tenho os integrais ALIAS e PULSAR (na sua versão USA), adquiridos antes da "invasão" comic no mercado português. Ou seja, acho que são obras a comprar, ler e desfrutar, independentemente dos meus comentários :-)

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  4. Não vou comprar também por essa razão, detesto mudanças de artistas num TPB.

    Então o Sandman era a puta da confusão, apenas comprei o Brief Lives, chateia-me à brava estar a ler uma história bem desenhada e depois ter de mamar com gatafunhos nojentos e primitivos, o Sandman é muito desequilibrado neste aspecto.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Nos Comics é muito comum a mudança de Desenhista a meio,e va la actualmente a muito menos desenhistas "tapa-buracos" que a 30 anos atras.Bendis ja tem meia dc na mao dele.Se querem obras de 1 semp re o mesmo desenhista que demora "séculos" como Hitch demorou nos nos Ultimates/Supremos (Salvat/Devir) ou Cassady em Planetary/X-men a desenhar estao a ler os livros errados ou melhor leiam só mini Series ai normalmente o desenhista é o mesmo.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. O problema não é nem sempre quando o desenhista muda mas sim quando a arte muda de maneira drástica, tipo desenhos realistas misturados com cartoonescos.

      Imagina o Cassaday a ser substituído pelo Humberto Ramos ou pelo Kaare Andrews a meio da run do Planetary, fixe não é?

      Pessoalmente nem me importo de esperar mas uma mini-serie como dizes e eu digo também uma ARC tem de ter o mesmo desenhista, as ARCs vão acabar em TPBs não é?

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