O novo díptico de Bouncer - uma das séries que a Arte de
Autor está a publicar regularmente - fica marcado pela ausência de
Jodorowsky no argumento, assumido também pelo desenhador Boucq.
A extensa obra do chileno Alejandro Jodorowsky em BD, fica marcada
por características específicas - cujas doses, geralmente
generosas, variam consoante os relatos - facilmente reconhecíveis,
que funcionam, de alguma forma, como a sua imagem de marca: sexo,
violência, sangue e misticismo a rodos.
Boucq, neste regresso ao papel de autor completo - a que se pode
apontar a omissão de uma ou outra clarificação ao longo da centena
e meia de pranchas da história - de alguma forma excluiu-as da sua
narrativa. Apesar do tom quase sobrenatural do (curioso) prólogo, a
vertente mística/espiritual está praticamente ausente do restante
relato, tal como as outras ‘marcas’ apontadas acima.
Inevitavelmente, estas ausências fazem deste díptico uma obra
diferente, mas não obrigatoriamente menos conseguido, no conjunto
das aventuras do cowboy maneta. Para melhor ou pior, tudo dependerá,
em última análise, daquilo que os leitores procuram em Bouncer,
que, desta forma, se
afasta de algumas das suas características distintivas e surge mais
próximo de um (bom) western tradicional.
Obviamente as personagens são as mesmas, o cenário base também,
mas se o tom violento e a sede de sangue foram atenuados, a ligação
aos álbuns anteriores existe e é feita com sucessivas citações,
assegurando assim a continuidade narrativa. Na origem de
O Ouro Maldito/O
Espinhaço do Dragão,
está o assassinato da jovem Gretel, a quem de seguida foi arrancado
o escalpo. O rapto posterior de Panchita, acabará por pôr Bouncer
na pista dos assassinos e na busca de
um saque escondido, que o
levará num longo périplo
pelos Estados Unidos e o México, enfrentando ou
fazendo alianças com brancos,
mexicanos e índios, em paragens inóspitas e naturalmente selvagens,
com algumas opções gráficas e narrativas interessantes e outras
tantas surpresas.
A galeria de horrores (humanos)
presente nos álbuns anteriores prolonga-se, quer através da obesa
condessa, quer - de forma mais evidente - nos
comportamentos retorcidos e
volúveis de alguns dos
intervenientes que, como quase sempre em Bouncer, continuam a ser
todos - os obviamente maus e os que deviam ser bons - pouco
aconselháveis como companheiros ou exemplos.
Bouncer: O Ouro Maldito/O Espinhaço do Dragão
Boucq
Arte de Autor
Portugal, Outubro de 2018
232 x 310 mm, 164 p., cor, capa dura
26,00 €
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda
a sua extensão)


"mais próximo de um (bom) western tradicional", pois para mim o problema deste álbum foi exatamente esse, é que eu não grande fã de Westerns, mas de Bouncer gostava bastante mesmo, por ser um Western "diferente"! Esta aproximação deste álbum aos Westerns tradicionais vai-me fazer perder o interesse pela serie...
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