04/12/2018

Bouncer: O Ouro Maldito/O Espinhaço do Dragão

Sem Jodorowsky




O novo díptico de Bouncer - uma das séries que a Arte de Autor está a publicar regularmente - fica marcado pela ausência de Jodorowsky no argumento, assumido também pelo desenhador Boucq.
Semelhanças e diferenças (para descobrir) a seguir.
A extensa obra do chileno Alejandro Jodorowsky em BD, fica marcada por características específicas - cujas doses, geralmente generosas, variam consoante os relatos - facilmente reconhecíveis, que funcionam, de alguma forma, como a sua imagem de marca: sexo, violência, sangue e misticismo a rodos.
Boucq, neste regresso ao papel de autor completo - a que se pode apontar a omissão de uma ou outra clarificação ao longo da centena e meia de pranchas da história - de alguma forma excluiu-as da sua narrativa. Apesar do tom quase sobrenatural do (curioso) prólogo, a vertente mística/espiritual está praticamente ausente do restante relato, tal como as outras ‘marcas’ apontadas acima.
Inevitavelmente, estas ausências fazem deste díptico uma obra diferente, mas não obrigatoriamente menos conseguido, no conjunto das aventuras do cowboy maneta. Para melhor ou pior, tudo dependerá, em última análise, daquilo que os leitores procuram em Bouncer, que, desta forma, se afasta de algumas das suas características distintivas e surge mais próximo de um (bom) western tradicional.
Obviamente as personagens são as mesmas, o cenário base também, mas se o tom violento e a sede de sangue foram atenuados, a ligação aos álbuns anteriores existe e é feita com sucessivas citações, assegurando assim a continuidade narrativa. Na origem de O Ouro Maldito/O Espinhaço do Dragão, está o assassinato da jovem Gretel, a quem de seguida foi arrancado o escalpo. O rapto posterior de Panchita, acabará por pôr Bouncer na pista dos assassinos e na busca de um saque escondido, que o levará num longo périplo pelos Estados Unidos e o México, enfrentando ou fazendo alianças com brancos, mexicanos e índios, em paragens inóspitas e naturalmente selvagens, com algumas opções gráficas e narrativas interessantes e outras tantas surpresas.
A galeria de horrores (humanos) presente nos álbuns anteriores prolonga-se, quer através da obesa condessa, quer - de forma mais evidente - nos comportamentos retorcidos e volúveis de alguns dos intervenientes que, como quase sempre em Bouncer, continuam a ser todos - os obviamente maus e os que deviam ser bons - pouco aconselháveis como companheiros ou exemplos.

Bouncer: O Ouro Maldito/O Espinhaço do Dragão
Boucq
Arte de Autor
Portugal, Outubro de 2018
232 x 310 mm, 164 p., cor, capa dura
26,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. "mais próximo de um (bom) western tradicional", pois para mim o problema deste álbum foi exatamente esse, é que eu não grande fã de Westerns, mas de Bouncer gostava bastante mesmo, por ser um Western "diferente"! Esta aproximação deste álbum aos Westerns tradicionais vai-me fazer perder o interesse pela serie...

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