Se a banda desenhada nunca precisou de texto escrito para ser lida e
compreendida, nem sempre esse tipo de obra revela a necessária
legibilidade.
Neste particular, Trap funciona
perfeitamente e, sem dizer uma palavra, o autor conduz-nos
por uma estranha narrativa.
O seu protagonista é um caçador solitário que vive na selva,
acompanhado apenas pelo seu cão. Na luta constante pela
sobrevivência, as presas que apanha, entre animais identificáveis e
outros mais fantásticos, servem-lhe de alimento mas também de
instrumentos pois, as suas peles, uma vez colocadas sobre a cabeça,
conferem-lhe a forma e as características desse animal.
A destruição de uma pequena aldeia por uma besta feroz, levá-lo-à
numa violenta senda de vingança, onde as armadilhas se
multiplicarão, numa inflexão narrativa que acaba por contrariar o
tom claramente humorístico das primeiras pranchas.
O traço de Burniat e Michiels, simples, muito ágil e dinâmico e
servido por um colorido plano mas que pontua os diversos momentos do
relato, sem ser visualmente muito atractivo, revela-se extremamente
expressivo e, a par de uma planificação só aparentemente
tradicional, revela grande eficácia e transforma o que poderia ser
apenas um exercício de estilo numa leitura agradável e
despretensiosa, que se faz virando quase compulsivamente página após
página, descobrindo as peripécias, perigos e surpresas, que se
sucedem a bom ritmo.
Trap
Mathieu Burniat (argumento e desenho)
Loup Michiels (desenho)
Dargaud
França, Janeiro de 2019
150 x 210 mm, 180 p., cor, capa dura
EAN 9782205079272
13,00 €
(imagens da edição original francófona; clicar nelas para as
aproveitar em toda a extensão)
Sendo bem feito, são excelentes.
ResponderEliminarDos que me lembro agora, os livros de do "pequeno pai natal" do Thierry Robin, "Emigrantes" do Shaun Tan e num registo bem 'diferente' "The dream of Cecilia" de Von Gotha.
Xico Manel não é preciso ir para o estrangeiro. De um autor português temos o excelente Kong da King. A editora do KingpinBooks tem ainda em catálogo outro livro excelente sem diálogos chamado Pétalas.
ResponderEliminarMas o Kong é especial.
Xiça... Mea culpa.
EliminarFalhou-me esse (Kong)
Não tenho a certeza se tenho o Pétalas. Mas se tenho, não me marcou grande coisa. Ao contrário do excelente Kong.
Sim, o Kong the King é um excelente exemplo. E também gostei do Pétalas.
EliminarBoas leituras... mudas!
E o "Gon" do Tanaka mete essas vossas preciosidades todas no bolso! :P
ResponderEliminarGosto muito do Gon do Tanaka, uma BD doentiamente violenta e divertida, mas em termos de conteúdo, ainda prefiro o Kong, do Osvaldo Medina.
ResponderEliminarBoas leituras