Há duas coisas que impressionam na obra a solo - ou com o filho - de Hermann: a sua (quase) obsessão pela decadência do género humano e a sua enorme qualidade gráfica.
Duke,
o protagonista, é um fraco. Tem problemas por resolver no passado,
foge a compromissos no presente, tenta enganar(-se
quanto a)o
futuro. E,
quando finalmente parece querer assumir aquilo que o destino exige
dele - como acontece
no presente álbum
- só demonstra o que Hermann tem apregoado: o ser humano não
presta, só está bem,
só se realiza
a causar o mal a outros.
É
um western, é verdade, são expectáveis cavalgadas e perseguições,
assaltos e tiroteios, vinganças e traições - e todos estes
elementos estão
lá - mas o desencanto que perpassa pelos álbuns de Hermann é que
serve de mote ao relato
(do seu filho Yves H.).
E entre figurantes, bandidos e supostos heróis, quase
não
há ninguém que (moralmente) escape.
Custoso,
é o que vou escrever a seguir. Apaguei e corrigi várias vezes,
tentei dourar, tentei evitar, mas não há como contornar: o desenho
de Hermann já não é o mesmo.
Mais
de perto, ao pormenor, nota-se o declínio, inevitável devido
à
idade
do grande mestre.
Já
há mãos que não o parecem, os rostos, em particular, perderam
detalhe e expressividade, por vezes as
personagens custam
até a distinguir.
Mas, apesar disso, Hermann continua a ser um senhor dos lápis e
pincéis, continua a ter páginas que nos deixam de boca aberta.
A forma como trabalha as sombras, as cores das árvores, do céu, das
pradarias,
dos
desertos, a utilização delas para definir os momentos do dia, ainda
é deslumbrante e faz -
continua a fazer - justiça
a um dos maiores desenhadores que a banda desenhada franco-belga
alguma vez teve.
Duke #3: Sou uma sombra
Yves H. (argumento)
Hermann (desenho)
Arte de Autor
Portugal, Março de 2019
230 x 300 mm, 56 p.,
cor, capa dura
15,50 €
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
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