Nem
há uma semana, escrevi aqui no
blog, a propósito de Indeh
- Uma história das Guerras Apaches,
escrito pelo actor e
realizador Ethan Hawke,
que ‘há obras cuja
notoriedade se faz à custa de questões (mais ou menos) acessórias,
que não estão intrinsecamente relacionadas com a sua qualidade em
si - não a questionando também’
Passa
a explicar - resumidamente - segundo a completa explicação dada no
excelente prefácio de Julián M. Clemente, que
complementa na perfeição uma bela edição da Panini espanhola, com
lombada em tecido e fita marcadora.
Corria
o ano de 1971 e o escritório de Washington do United States
Department of Health, Education
and Welfare, contactou Stan Lee, pedindo-lhe para levantar
a problemática da droga
numa das suas histórias. O escritor achou uma ideia válida e
importante, mais a mais dado
o público juvenil para quem eram direcionados os seus comics, e
criou a história que viria a ser publicada em The
Amazing Spider-Man #96 a
#98.
A
questão da droga era algo marginal numa trama em que o Duende Verde
regressava (numa de muitas mais vezes futuras) para assombrar mais uma vez Peter
Parker/Homem-Aranha, devido ao
conhecimento que tinha da sua
identidade secreta, mas o facto de existir na história referências,
mesmo que ligeiras e quase
veladas, ao tema, levou a
que a Comics Code Authority - fazendo alarde
de uma actuação estúpida e obtusa, comum a todas as autoridades
censórias - proibisse a edição. Stan Lee colocou a questão a
Martin Godman, director da companhia, que o apoiou e, numa
opção rara, fez publicar
as três revistas sem o
famoso selo do Comics Code na capa. A Marvel não fez alarde disso e
o facto terá passado despercebido a muitos dos vendedores e
compradores.
Esta
história, que passa em grande parte pelas dúvidas existenciais de
Peter em relação à sua identidade secreta, nas saudades que sente
de Gwen Stacy, que tinha saído do país na sequência da morte do
pai (supostamente pelo Homem-Aranha), e no deteriorar da sua relação
com Harry Osborn devido às provocações de Mary Jane, lida hoje,
revela uma grande ingenuidade na abordagem à tal temática
‘polémica’, mas a verdade é que foram muitos os que escreveram
à editora a louvar a coragem, a atitude e a chamada de atenção que
constituía para os jovens.
Curiosamente,
na continuação, em
The
Amazing Spider-Man
#99
(já com ‘selo’ na capa…),
mantendo
a onda de ‘serviço público’, Stan Lee expunha outra tema
socialmente fracturante e delicado: as condições em que viviam os presos nas
cadeias...
El
Asombroso Spiderman: El peligro de las drogas
Inclui
The
Amazing Spider-Man #96
a #99
Stan
Lee
(argumento)
Gil
Kane e John Romita (desenho)
Panini
Comics
Espanha,
Março de 2019
170
x 260
mm, 96
p., cor, capa dura
16,00
€
(capas
disponibilizadas
pelas
editoras;
clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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