28/05/2019

Zaroff

Caça ao homem

1932. Zaroff, um exilado russo, fugido da pátria após a revolução de 1917, reina sob uma pequena ilha ao largo do Brasil.
Naquele local, preparado à medida da sua paixão - a caça - dá largas ao supremo prazer daqueles que fazem da perseguição a outros seres vivos o seu modo de vida, com uma variante: persegue seres humanos sobreviventes dos barcos que faz naufragar e, após a caçada consumada, exibe as suas cabeças como troféus nas paredes do seu pequeno castelo.
Até ao dia em uma das suas presas consegue fugir e contar o que vi(ve)u. Uma das poucas que acreditam nele é uma jovem herdeira de um clã irlandês dos Estados Unidos, cujo pai desaparecera naquela zona.
Disposta a vingar-se, faz chegar a Zaroff um desafio, sob a forma de um curto filme: ela raptou a irmã e os três sobrinhos do caçador e libertou-os na sua ilha. A proposta é que ele os proteja enquanto ela os persegue mas tudo só acabará com a morte de um ou de outro.
Livremente baseado no conto The Most Dangerous Game, de Richard Connell, publicado originalmente em 1924 e que esteve na origem de um filme que ficou famoso, oito anos mais tarde, esta banda desenhada apresenta-nos os seus protagonistas como seres humanos a raiar a loucura, uns e outros - não só o conde russo e a jovem irlandesa, mas também a irmã daquele e os seus filhos. Um dos seus principais trunfos é, aliás, a forma inesperada como uns e outros vão agindo ao longo do relato, adoptando posições extremas e fazendo assim com que o leitor - ao contrário do que é habitual neste tipo de relato - se sinta incapaz de sentir simpatia ou de se identificar com uns e outros, assistindo incomodado a um longo e perigoso jogo do gato e do rato, com os protagonistas a trocarem de papéis mais do que uma vez, movidos por dois mais fortes sentimentos que o ser humano pode sentir: o desejo de vingança e a luta pela sobrevivência. O que contribui também para a aceitação de um desfecho inesperado a princípio, mas perfeitamente convincente no contexto da narrativa.
Apesar de uma certa aura de improbabilidade e de faltar credibilidade a algumas cenas, graças ao traço realista, seguro e eficiente de François Miville-Deschênes e ao ritmo acelerado imposto por Sylvain Runberg, ao correr da caçada humana, com sangue a rodos e alguns momentos de suspense, este thriller, misto de acção e psicológico, sem mais ambições do que permitir ao leitor desfrutar de um relato de aventuras intenso, consegue cumprir satisfatoriamente o seu propósito.

Zaroff
Collection Signé
Sylvain Runberg
François Miville-Deschênes
Le Lombard
França, Maio de 2019
EAN 9782803672288
241 x 318 mm, 88 p., cor, capa dura
16,45

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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