22/07/2019

Get Jiro!

 
Provar, gostar, repetir mas...
Penso que não erro ao escrever que, há meia dúzia de anos - ponham-lhe mais um ou dois anos, para atrás ou para a frente que o resultado será o mesmo - não seria possível editar estes livros em Portugal.
Entretanto, com o aumento e a expansão da oferta, edições como Get Jiro!, que fogem às habituais lógicas comerciais - tanto quanto é possível aplicar o termo ‘lógica’ à edição de BD - acabam por encontrar o seu lugar e, acredito, o seu nicho de leitores.
Que, no caso presente, sairá certamente do curto (?) ‘núcleo duro’ dos leitores tradicionais de BD, atravessando transversalmente vários segmentos, por força do nome de Anthony Bourdain como (co-)criador e (co-)autor do projecto.
Mas… - tantas vezes surge este ‘mas’ - avancemos por partes.
No primeiro volume, Todos querem apanhar o Jiro!, somos introduzidos numa Los Angeles à frente do nosso tempo, na qual o culto pela comida ultrapassa os limites do imaginável e do racional. A procura pelos restaurantes mais afamados, o desejo de comer os pratos dos melhores chefs, leva a excessos e desencadeou uma verdadeira guerra culinária, que envolve restaurantes famosos, os seus proprietários e gangues, e no centro da qual se encontra o protagonista, o renomado chef de sushi Jiro.
Partindo de um mundo que conhece bem - o da culinária - Anthony Bourdain, com Joel Rose, extravasa sem limites a paixão pela comida e as consequentes rivalidades, para nos presentear com uma obra em que o humor negro, a acção, a surpresa e muito sangue se encontram ao virar de cada página, tornando divertido, estimulante e até viciante uma leitura da qual muitos - eu incluído - se aproximarão com muitas dúvidas.
Langdon Foss, com um traço caricatural - com excessos, que aqui e ali evocaram em mim o traço de François Boucq, que teria sido uma outra boa escolha para este tipo de obra - consegue potenciar o efeito chocante de algumas cenas, as reacções coléricas de outras e dar uma adequada vitalidade ao todo.

Mas… - de novo - por vezes o sucesso ou, pelo menos, o bom desempenho (comercial) de um projecto auto-conclusivo e auto-suficiente por si só, levam a que - autores? editores? …? - procurem repetir a receita - belo termo, no presente contexto! - em novos volumes. Dizem as regras de extensão de séries que um dos caminhos mais fáceis e certeiros é contar o passado dos protagonistas, explicando como ele contribuiu para fazer deles o que conhecemos no presente.
Foi este caminho - com tanto de facilidade quanto de complicação - que os autores seguiram e, dessa forma, Sangue e Sushi leva-nos ao Japão natal do protagonista, ao tempo em que ainda era - em segredo - aprendiz de cozinheiro e - publicamente - filho e herdeiro de um dos chefes yakuzas locais. Dividido entra a paixão (culinária) e a pressão familiar, sentindo na pele os ciúmes do (violento) irmão e apanhado entre uma (outra) guerra de gangues, Jiro terá de aprender a lidar com tudo isso e encontrar o seu lugar.
Todos sabemos que existe um limite para o que conseguimos comer e que mesmo o prato mais saboroso se torna enjoativo se consumido em excesso e - mais uma vez - a metáfora alimentícia (!) revela-se adequada para aplicar a esta BD pois, pelo argumento previsível e a arte - de Alé Garza - de fundos vazios, poses forçadas e seres desproporcionados, que não ultrapassa o sofrível, chegados ao fim do segundo volume, somos levados a pensar que devíamos ter ficado apenas pela degustação do primeiro…
Fica o aviso, para quem ainda for a tempo...

Todos queram apanhar o Jiro!
Anthony Bourdain e Joel Rose (argumento)
Langdon Foss (desenho)

Sangue e Sushi
Anthony Bourdain e Joel Rose (argumento)
Alé Garza (desenho)

Levoir/Público
Portugal, 8 e 15 de Junho de 2019
170 x 257 mm, 168 p., cor, capa dura
13,90 €

(imagens e informação disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Ok. Fico-me pelo primeiro e aproveito o dinheiro para outra coisa.
    Obrigado pela dica :-)

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