04/07/2019

Tintin e a Lua

O desejável e o possível...





A proximidade de mais um aniversário - o 50.º! - da chegada a solo lunar do primeiro homem - Neil Armstrong - é o pretexto para a edição, pela ASA, de um volume duplo que contém o díptico lunar de Tintin: Rumo à Lua e Explorando a Lua.
Pontos fracos e fortes da edição, já a seguir.
A edição é positiva, sem dúvida. Chama - ou tenta chamar… - as atenções para Tintin, aproveita o mediatismo que a data redonda vai ter e faz regressar às livrarias um título marcante da criação de Hergé.
Mais, fá-lo num formato maior - similar ao original… - ao da edição regular disponível actualmente.
No entanto, esta foi - foi? - uma oportunidade perdida para ir um pouco mais além.
Os leitores - alguns leitores, uns poucos leitores, quantos seriam? - queriam mais. Queriam, para além dos dois álbuns do ciclo da Lua, numa versão diferente se possível, alguns extras. Um dossier sobre a sua elaboração, esboços, material auxiliar, acima de tudo, possivelmente, a história de 4 páginas que os Estúdios Hergé fizeram sobre a viagem da NASA que levou os primeiros seres humanos à Lua… Aquilo que a Casterman (também) lançou em França, numa iniciativa semelhante que, no entanto, conta mais umas três dezenas de páginas que a edição portuguesa, inclui um dossier sobre a concepção dos dois álbuns e reproduz não a versão ‘final de álbum’ - aquela que todos conhecemos - mas sim a que foi originalmente publicada na revista Tintin, que inclui variações nalgumas sequências. Com um senão, o formato maior e a edição mais volumosa traduz-se no preço mais elevado: 34 €.
Reproduzir esta edição da Casterman, seria uma hipótese. Interessante. Desejável. Se seria viável no contexto da edição de BD no seio da ASA, tenho muitas dúvidas…
E tenho muitas dúvidas se, comercialmente, seria uma aposta mais vantajosa, se os compradores - mais exigentes - que atrairia a mais, compensariam aqueles que o preço mais elevado iria afastar...
Para o bem e para o mal - palpável, se assim preferirem, fica uma bela edição, do ponto de vista gráfico, no formato adequado para reprodução da arte original de Hergé.
Pouco mais que curiosidade para quem já tem estas histórias noutras edições - da Verbo, do Público, da ASA… - mas uma boa edição, mediaticamente relevante quando daqui a poucas semanas se falar dos 50 anos dos primeiros passos de Neil Armstrong na Lua, indicada para quem nunca leu Rumo à Lua/Explorando a Lua. Leiam filhos, sobrinhos, netos…
E, para esses - e os outros - fica também a oportunidade de lerem ou relerem aquela que foi, possivelmente, a aventura de Tintin mais elaborada que Hergé criou, pela pesquisa - em jeito de antecipação, muito fiel ao que a NASA levou realmente a cabo cerca de 15 anos depois - que esteve na sua origem, que lhe confere - mesmo hoje - uma grande credibilidade científica.
Em termos narrativos, apesar de algum excesso de texto - a que a tal credibilidade obriga - é uma obra do melhor Hergé, na posse de todos os seus (muitos) recursos, muito conseguida em termos gráficos. Veja-se, por exemplo, como o foguetão lunar se tornou uma das imagens de marca do século XX, reproduzido, copiado, emulado à exaustão.
Narrativamente, é um relato muito sólido, com uma equilibrada combinação da tal base realista, com a ficção, assente em doses adequadas de suspense - acentuado pelo ritmo de publicação em revista que ‘obrigava’ a deixar o leitor ‘pendurado’ no final de cada página - acção, humor e uma invulgar componente dramática quando comparada com outras aventuras do repórter de poupa. Veja-se, a título de exemplo, a sequência que antecipa a alunagem do foguetão que leva Tintin, Haddock, Girassol, Milu e… ou boa parte da sequência final do livro.
Um bom pretexto - desnecessário mas sempre útil… - para voltar a Tintin… e à Lua!

Tintin e a Lua
Inclui os álbuns Rumo à Lua e Explorando a Lua
Hergé
ASA
Portugal, 25 de Junho de 2019
227 x 305 mm, 128 p., cor, capa dura
19,90 €

(imagem disponibilizada pela editora; clicar nela para a apreciar em toda a sua extensão)

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