27/11/2019

A Loja

Retratos do zoo







Obra autobiográfica (?), de crónica social, de humor e de coragem, A Loja foi uma das agradáveis surpresas do recente Amadora BD e, porque não, da BD nacional em 2019, pela forma como se atreve a olhar para o umbigo desta arte no nosso país.
Vamos por partes.
Não sei se Derradé alguma vez sonhou deixar o seu emprego de informático para abrir uma loja de BD - e este é o resumo deste livro -  mas as similitudes entre o autor e o protagonista - ou o seu empregado...? - deste A Loja, parecem apontar nesses sentido. Embora - e desculpem lá o trocadilho - neste país faça mais sentido manter os empregos e não tentar pôr em prática sonhos aos quadradinhos…
A Loja é uma obra a que podem ser apontados dois tempos, quase dois registos. No primeiro, é a crónica social que impera, uma crónica marcada por algum desencanto e desilusão apesar do manto do humor que a sustenta, na qual Derradé apresenta alguns dos preconceitos que continuam a existir contra a BD no nosso país: a sua pretensa infantilidade, a sua menoridade em relação às obras ilustradas - ou aos livros ‘sérios’…
A isso, acrescenta alguns episódios que, podendo parecer apenas elementos paródicos de um relato divertido, infelizmente são na verdade a transposição para as suas páginas de factos reais que ao longo dos anos foram vivenciados por outros - editores, lojistas - neste país.
Com o embalo ganho na primeira metade da obra, com estes episódios em que se adivinha algo de catártico, o autor entra então no melhor do seu livro: o corajoso - por via de eventuais represálias! - retrato do zoo da BD nacional, com a introdução de uma série de personagens (bem) inspirados em seres reais, facilmente reconhecíveis para quem frequenta festivais, lançamentos e páginas do Facebook, reproduzindo os seus tiques e particularidades de forma eficaz e feliz, com um especial destaque para o impagável e hilariante episódio dos ‘Fritas’! Se estas páginas são divertidas q.b. para aguentarem uma leitura ‘ignorante’, os conhecedores dos retratados tirarão da sua leitura muito mais, arriscando mesmo bem dispostas gargalhadas.
Num registo assumidamente de humor, possivelmente seria neste ponto (página 57) que o livro deveria terminar, sem o toque romântico e de regresso à realidade que as últimas pranchas constituem, mas podemos perdoar Derradé se ele concretizar a sequela que de alguma forma fica prometida…

A Loja
Derradé
Polvo
Portugal, Outubro de 2019
220 x 165 mm, 64 p., pb, capa mole com badanas
8,99

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Zoo? ZOO??!!! Estás a chamar-me animal?? Já disse ao Dário para meter uma personagem nova no vol. 2, o Anacleto, crítico de BD no Porto, carago!

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  2. Interessante os termos BD, comics e mangá... ilustra bem as 3 maiores escolas dessa arte....
    quase não se vê fumetto, manhwa, tebeo....

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    1. Se bem que em Portugal, BD designa muitas vezes todos os tipos de BD: franco-belga, comics, fumetti, mangá, etc...

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    2. Galícia e Romênia também usam o termo BD

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  3. Se quadrinhos é BD então a revista Gina também é BD ou a será que a Gina é fotonovela?

    Porque se Greg copia-por-cima-de-fotos Land faz um grande sucesso como artista de BD com os seus desenhos foto-realistas com enredo não podemos afirmar que nesta perspectiva as suas BDs não são diferentes da Gina?

    Resumindo se a Gina não é BD o Greg Land não vale um chavo.

    Espera aí, então e o Alex Ross?

    Fico-me por aqui.


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