É indiscutível que Julia Kendall, enquanto personagem de BD, vai bem além da bidimensionalidade do papel, assumindo-se a várias dimensões: mulher, criminóloga, professora, neta, irmã, amante…
Por
isso se entende que os sucessivos casos que investiga apresentem
sempre criminosos ‘novos’ sem qualquer tipo de recorrência. Ou
quase.
É
por
tudo
isto, no entanto, que se
tornam
especiais os poucos confrontos que em 20 anos de existência teve com
a sua ‘besta negra’, o que faz com que os leitores estejam sempre
à espera de Myrna.
[O
texto que se segue desvenda um pouco da segunda
história
deste
volume,
mas não mais do que a sua introdução em J. Kendall #139; mesmo
assim, leiam-na por vossa conta e risco.]
Myrna,
Myrna
Harrod, a assassina em série que apresenta em Julia um papel
semelhante ao de Mefisto em Tex: os encontros são raros, mas sempre
memoráveis.
Loucura
sem fim,
segundo relato deste volume #139 da edição brasileira das aventuras
da criminóloga de Garden City, marca mais um desses encontros
(in)desejados (conforme o ponto de vista das duas protagonistas).
Duas
protagonistas, sim, porque quando Myrna entra em cena, rouba boa
parte dela a Julia, quer do ponto de vista visual para
o leitor,
quer na condução da narrativa através dos seus pensamentos, papel
que geralmente cabe a Julia.
O
relato começa com a fuga de Myrna
do hospital em que estava internada, em coma, recomeçando a sua
senda sanguinária que progressivamente a encaminha para Julia.empurrada, em parte, pelas reminiscências e memórias de infância.
Ao
desejo de reencontro dos leitores com a assassina, Berardi
(cor)responde com um argumento
forte,
a dois tempos - Julia num local secreto, protegida por Alan Webb, e
Myrna numa
cruzada assassina na sua direcção, eliminando aqueles com quem se
cruza - numa narrativa em que as páginas parecem multiplicar-se para
impedir o frente a frente entre as duas mulheres, movidas por
sentimentos antagónicos.
A
gestão de tempo de Berardi chega a ser cruel, pela forma como mais
do que uma vez o ponto de não retorno para o inevitável encontro é
simulado (para os olhos do leitor) sem que se concretize. Para,
afinal, no
final, ocupar
apenas umas escassas meia dúzia de páginas…
...mas
deixando a promessa de um próximo - mas não
antes de
(mais uma) longa espera - regresso.
Capas,
outra vez
Depois
de Moonshine
#2 Comboio dos Tormentos,
volto ao tema das capas.
As
da Sergio Bonelli Editiore, nas suas edições tradicionais, de venda
em bancas e quiosques - admiradas por uns, odiadas por outros - são
características e ostentam durante anos, lustros, décadas a
assinatura - o traço, o estilo, a visão da personagem… - de um
mesmo autor. Mauro Soldi, no caso de Julia, do número inaugural até
ao #157.
A partir daí foram entregues a Cristiano Spadoni que, para além do estilo diferente, mais arejado, apresenta aos leitores uma nova Julia, menos receosa e tímida, mais capaz de assumir o comando e de arriscar onde antes hesitava, em suma, mais em linha com aquela que as últimas edições têm revelado.
A partir daí foram entregues a Cristiano Spadoni que, para além do estilo diferente, mais arejado, apresenta aos leitores uma nova Julia, menos receosa e tímida, mais capaz de assumir o comando e de arriscar onde antes hesitava, em suma, mais em linha com aquela que as últimas edições têm revelado.
J.
Kendall As aventuras de uma criminóloga #139
Uniforme
manchado
Berardi
e Calza (argumento)
Ernesto
Michelazzo (desenho)
Loucura
sem fim
Berardi
e Mantero (argumento)
Steve
Boraley (desenho)
Mythos
Editora
Brasil,
Março/Abril de 2019
135
x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, mensal
R$
19,80 / 9,00 €
(capa brasileira disponibilizada pela Mythos; capa italiana disponibilizada pela Sergio Bonelli Editore; pranchas disponibilizadas por
José Carlos Francisco;
clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Boa tarde,
ResponderEliminarPedro, pode-me informar onde posso encontrar estas edições brasileiras em V. N. Gaia?
Obrigado
Actualmente, tanto quanto sei, as edições da Mythos só se conseguem encomendando directamente no Brasil.
EliminarBoas leituras!