26/01/2020

2019: As escolhas da Ala dos Livros



Tentando tornar mais abrangente - e menos personalizado - o balanço de 2019 que As Leituras do Pedro estão a levar a cabo durante este mês de Janeiro, foi pedido aos responsáveis das editoras portuguesas com mais títulos lançados no ano passado, que destacassem (até) três dos seus títulos e três títulos de outras editoras que gostariam de ter sido eles a editar.
As respostas estão a ser publicadas aqui por ordem de recepção, pelo que já a seguir podem descobrir a a opinião de Ricardo Magalhães, editor da Ala dos Livros.

Edições da Ala dos Livros

Escolher algumas das obras que publicámos na Ala dos Livros em 2019, apesar de não serem muitas, será sempre injusto para as outras que não são escolhidas. Por esse motivo esta escolha baseia-se apenas na importância das obras no percurso da editora ou na forma como contribuíram para o que consideramos uma evolução na actividade editorial.
Sem uma ordem específica de preferência entre estas, que não a alfabética, das obras publicadas pela Ala dos Livros, destacamos:

A Morte Viva
Oliver Vatine e Alberto Varanda

Comanche Integral 1
Greg e Hermann

Eu, Louco
Antonio Altarriba e Keko

A Morte Viva foi uma obra importante para nós no sentido em que permitiu colocar em prática, desde o processo de escolha e negociação do título à sua edição, alguns dos aspectos que gostaríamos que fossem centrais nas nossas edições. A decisão de juntar elementos da edição a cores com outros da edição de formato especial a preto e branco surgiu do que nos pareceu uma possibilidade de tornar aquela edição diferente, com conteúdos adicionais, mantendo o tipo de edição que consideramos melhor se enquadrava no momento da editora e do mercado. O processo de procura do equilíbrio entre as duas vertentes foi, para nós, muito importante e contribuiu para definirmos o que pretendemos venha a ser a imagem da Ala dos Livros.
A série Comanche tem para nós a particularidade, que poucos leitores conhecem, de ainda ter sido em parte delineada e idealizada na sua concepção e divisão, com conselhos do nosso avô Jorge Magalhães. De certa maneira trata-se também da “sua edição” de uma série da qual sabemos que gostava muito, e esperamos que seja como ele gostaria de a ter feito. O volume 1 desta série foi também, como segundo título de uma nova editora, uma aposta muito forte - até pelo tipo de edição e formato - o que, como é normal, terá deixado alguns leitores com dúvidas sobre o que poderia fazer a Ala dos Livros.
Eu, Louco é um daqueles livros que por vezes aparecem e somos capazes de ler para além das imagens. Tendo já trabalhado na tradução do livro anterior da trilogia, e conhecendo pessoalmente o António Altarriba, não podíamos deixar passar este título. É um livro forte e profundo que consegue traduzir de forma brilhante (ou obscura?) todo o universo de sensações de uma mente perturbada e atormentada pela sua consciência.


Livros de outras editoras

Novamente sem ordem de preferência (ou sequer alfabética neste caso), em relação a publicações de outras editoras, escolhemos 4 títulos:

Indeh
Ethan Hawke e Greg Ruth
G. Floy

Conversas com os Putos e com os professores deles
Álvaro
Polvo

 
Sentinel
Luís Louro
Asa

 
Andrómeda
Zé Burnay
Edição de autor e A Seita

Uma das obras que já tínhamos visto e nos chamou a atenção ainda antes de ser publicada entre nós foi Indeh. Se no que se refere ao argumento talvez o tema seja complexo de abordar e de desenvolver (embora não possa dizer que não esteja bem conseguido), em termos gráficos é uma obra soberba. Uma excelente edição do José de Freitas.
Conversas com os Putos e com os professores deles, do Álvaro, é um dos livros mais hilariantes (e preocupantes!) que se pode ler. Um género muito pouco trabalhado e que o Álvaro consegue “apanhar” em pleno. Vale bem a pena a leitura deste e dos anteriores pela forma como analisam de forma tão actual (e por vezes quase sarcástica) uma realidade que, sobretudo para quem também sabe o que é trabalhar no ensino e formação, consegue ser assustadora. E como ele vos poderá garantir, aquilo é mesmo a realidade…
O Luís Louro é daqueles autores de quem dificilmente conseguimos falar de forma totalmente objectiva. Não só é nosso conhecido como um amigo de há muitos anos. Além disso, faz parte do restrito grupos de poucos autores que conseguem ter um universo de cenários e personagens tão próprios e especiais que se tornam absolutamente cativantes. Neste Sentinel voltou ainda por cima a presentear-nos com a participação especial de mais uma caricatura da família e meter o nosso pai no meio do enredo. Mais do que “de artista” é “de mestre”. É com grande satisfação que vemos o grande reconhecimento do público que o Luís obteve (novamente!) em 2019.
Outro título muito interessante é Andrómeda, do Zé Burnay e que ficou muito bem retratado na exposição no Amadora BD. Todo o enorme trabalho anterior na divulgação, promoção e criação da edição original só podia resultar na mais que merecida edição em português. Outro daqueles títulos que poderíamos considerar seriamente.

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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