10/01/2020

2019: Os números

O ano da quebra. Ou não.






Depois de uma série de anos em crescimento e de atingir valores nunca vistos, o mercado português de BD apresentou em 2019 uma quebra. Significativa. Ou não.
Todos os números, já a seguir.

Nota prévia
Os números que se seguem resultam de uma contabilidade feita por As Leituras do Pedro e José de Freitas e da sua comparação - e ajuste - com a listagem do site Bedeteca Portugal, mas dizem respeito apenas a edições com efectiva distribuição comercial. De fora, ficam, por isso, as edições de autor, os fanzines, os prozines, as edições institucionais de distribuição limitada
A listagem, actualizada mensalmente, não está isenta de lacunas e é natural que possa faltar uma ou outra edição. Ela está publicada no final desta entrada e todas as correcções são bem-vindas!

Os números
Em 2019 foram editadas em Portugal 229 edições de BD. Uma quebra - significativa, reitero - de 62 unidades (21,1 %) em relação às 293 edições lançadas em 2018.
Que, curiosamente correspondem quase integralmente, às 68 edições que a falida Goody lançou no ano transacto. Ou seja, olhando por um prisma diferente - os números, sendo exactos, muitas vezes podem ser lidos conforme queremos… - podemos afirmar que em 2019 até houve um ligeiro crescimento na edição de BD e que ‘apenas’ se perdeu o mercado de quiosques e bancas. O que, concordo, não deixando de ser mau, pode indiciar que o leitor de bancas é um nicho à parte. Ou que as editoras não os conseguiram conquistar para os livros…
Deixando de lado esta questão, parece ter havido uma estabilização do mercado, sendo evidente que este conclusão apenas poderá ser validada se tiver reflexo também nas tiragens e no número de exemplares vendidos, factor de que existem poucos dados. Os próximos anos ajudarão a dar uma resposta mais cabal.

Para além destas edições, há que considerar ainda os 37 volumes das colecções de bancas/assinatura: Príncipe Valente e Colecção definitiva do Homem-Aranha, que não sendo edições portuguesas - são brasileiras, distribuídas cá - terão certamente um volume de vendas não negligenciável.

No campo - bem mais difícil de contabilizar - das edições ‘alternativas’ - independentes, institucionais, de autor… - que vão do mais simples fanzine à quase edição de luxo, quase exclusivamente de autores nacionais, terão saído no nosso país cerca de quatro dezenas de edições.

Editoras
Em 2019 houve 34 editoras a lançar BD no nosso país (33 contabilizadas em 2018). Destas, apenas 12 (35,3 %) lançaram 5 ou mais livros e 14 (41,2 %) lançaram apenas 1 título.
As 12 inicialmente citadas podem ser divididas em três grupos, de acordo com o número de lançamentos:
Grandes editoras
119 edições; 52,2 % do total; -76 que em 2018 (1)
  • Levoir - 38 edições; 16,7 %; -4
  • G. Floy: 35 edições; 15,4 %; +3
  • Devir: 25 edições; 11,0 %; -1
  • ASA: 23 edições; 10,1 %; -4
(1) Este valor é obtido em comparação com os números de edição das ‘grandes editoras’ em 2018, o que entra em linha de conta com as 68 edições da Goody

Médias editoras
50 edições; 21,8 % do total; +27 que em 2018 (2)
  • Arte de Autor - 14 edições; 6,1 %; +7
  • Escorpião Azul: 13 edições; 5,7 %; +4
  • Gradiva: 12 edições; 5,3 %; +7
  • Polvo: 11 edições; 4,8 %; -1
(2) Este valor é obtido em comparação com os números de edição das ‘médias editoras’ em 2018

Pequenas editoras
26 edições; 11,4 % do total; +0 que em 2018 (3)
  • A Seita: 8 edições; 3,5 %; +8 (4)
  • Planeta: 7 edições; 3,1 %; +0
  • Ala dos Livros: 6 edições; 2,6 %; +5
  • Chili Com Carne: 5 edições; 2,2 %; +2
(3) Este valor é obtido em comparação com os números de edição das ‘pequenas editoras’ em 2018
(4) Estão aqui contabilizados quatro títulos que saíram inicialmente pela G. Floy, mas que em termos contabilísticos das editoras passaram para o catálogo de A Seita, aquando da formação desta

Outras editoras
31 edições; 13,6 % do total; -22 que em 2018

Calendarização
Em termos de lançamentos, mantendo-se o perfil dos últimos anos, há dois picos, correspondentes ao Festival de BD de Beja e ao Amadora BD, sendo os respectivos trimestres bastante mais preenchidos do que os outros dois.
Em termos mensais, o número de edições variou entre as 8 e as 37.

Distribuição
A livraria continua a ser o local privilegiado de venda de BD e todas as edições aqui contabilizadas passaram por lá. No entanto, 48 (21,1 %) foram primeiro distribuídas em banca e 45 (19, 7 %) tiveram distribuição inicial com o jornal Público, sendo este último valor similar ao de 2018.

Origem
No que diz respeito à origem das obras de BD publicadas, os Estados Unidos, sem surpresa, continuam a ser o principal ‘fornecedor’ das editoras nacionais. Apesar da quebra que sofreram, de 108 para 90 (39, 5 %), o desaparecimento da Goody parece ter sido bem compensado.
Seguem-se a França/Bélgica com 50 edições (21,9 %) e um ligeiro crescimento - possivelmente menor do que aquele que a percepção indicaria... - e Portugal com 38 edições (16,2 % e mais uma que no ano anterior).
No gráfico ao lado é ainda possível conferir a diminuição significativa de edições provenientes do Japão e da Espanha.

Data original de publicação
Das edições lançadas em 2019 em Portugal, 47 (20,6 %) eram inéditas ou tinham sido lançadas originalmente há menos de 1 ano e 98 (45,2 %) tinham sido lançadas nos últimos 5 anos. Ou seja, podem ser consideradas recentes quase um terço dos livros lançados.
Por outro lado, 44 (19,3 %) tinham 20 ou mais anos.

Género
Se muitas vezes é difícil classificar uma obra quanto ao seu género, uma vez que por vezes eles se confundem ou complementam, mantendo o critério dos últimos anos há uma facto saliente - e expectável pelo que atrás ficou escrito. As edições de super-heróis tiveram uma quebra significativa (devido ao desaparecimento da Goody) mas mesmo assim de apenas 30 unidades, o que significa que houve uma compensação temática do desaparecimento das edições de super-heróis (Marvel) de bancas. O que garantiu que continuam a liderar neste capítulo.

A Listagem
Segue-se a listagem de todas as edições de BD editadas em 2019 em Portugal, ordenada por editora/mês/título.

Actualização: Na listagem abaixo falta o livro O Espírito do Escorpião, da editora Escorpião Azul. Será oportunamente actualizada.

 

 

 

 

Agora resta aos leitores procurarem os ‘seus’ livros. E, muito importante, as editoras procurarem os leitores, promovendo o que editam. Para que possam continuar a fazê-lo.

Boas leituras!

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Vocês são os meus super herois favoritos! Grande trabalho!

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  2. "quase integralmente, às 68 edições que a falida Goody lançou no ano transacto. Ou seja, olhando por um prisma diferente - os números, sendo exactos, muitas vezes podem ser lidos conforme queremos… - podemos afirmar que em 2019 até houve um ligeiro crescimento na edição de BD e que ‘apenas’ se perdeu o mercado de quiosques e bancas. O que, concordo, não deixando de ser mau, pode indiciar que o leitor de bancas é um nicho à parte. Ou que as editoras não os conseguiram conquistar para os livros…"

    Isso é fácil nenhum do Conteúdo que sai para Livrarias Marvel/Dc tem menos de 5 anos ou mais e nao é Mainstream como era o da Goody.

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    1. Estás completamente errado. O Cavaleiro Negro e o Maldito, os Príncipe Encantado das Trevas, o Doomsday Clock, etc... são coisas BEM recentes. Tal como o Jessica Jones e a Ms. Marvel têm uns 4-6 anos.

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