05/02/2020

Nuno Plati: “O franco-belga era um sonho de criança”







É português, chama-se Nuno Plati e descobrimo-lo como desenhador nos super-heróis da Marvel. No início de Janeiro deste ano, fez a sua estreia no mercado franco-belga em Métanöide, que serviu de pretexto para a conversa por mail que se segue.

As Leituras do Pedro: Depois de publicares na Marvel, agora fazes a tua estreia no mercado franco-belga. Onde te sentes mais à vontade?
Nuno Plati: Honestamente não sei onde me sinto mais à vontade, por um lado trabalhei vários anos com a Marvel e neste preciso momento estou a desenhar umas páginas para um livro dos Avengers em parceria com a IDW, mas a verdade é que já não me dá tanto gozo desenhar os meus heróis de infância e prefiro outro tipo de temática, apesar de ter de elogiar o quão profissional é a máquina da Marvel em termos logísticos.
O franco-belga também era um sonho de criança, e sinto-me muito bem nesse meio, sinto-me mais livre, e apesar de ser um mundo mais exigente, se tiver essa oportunidade era por aí que gostaria de ficar nos próximos tempos. Claro que o ideal é ter a possibilidade de trabalhar nos dois mundos, não necessariamente na Marvel e nos supers, mas no mercado independente Americano e no Europeu.

As Leituras do Pedro: Quais as principais diferenças entre as respectivas formas de trabalhar?
Nuno Plati: Da minha experiência, a principal diferença são os prazos, porque no geral no mercado Americano, os prazos são curtos, o que implica uma linha de montagem muito mais rápida, e que não deixa espaço para refinar determinados aspectos. Mas a base é a mesma, tens um editor e a coisa desenrola-se seguindo a mesma lógica “hierárquica”.
É sempre bom ter mais tempo, que é o que acontece no mercado europeu, mas por outro lado o desafio das deadlines mais apertadas do mercado americano é algo que até acho estimulante.

As Leituras do Pedro: Como surgiu esta hipótese de parceria com o David Boriau e de publicação na Glénat?
Nuno Plati: O David era amigo do Ricardo Tércio, meu eterno companheiro de aventuras que nos deixou em Outubro passado, e com ele desenvolveu vários pitches.
Ele viu o meu trabalho, gostou e começamos a desenvolver ideias para possíveis histórias e, após um longo período em que andámos para trás e para a frente com estas mesmas ideias com várias editoras francesas, o projecto Métanöide agradou à Glénat e avançou.

As Leituras do Pedro: De que forma trabalharam? Recebeste o argumento de uma única vez? A planificação foi tua? Pudeste introduzir alterações na história? …?
Nuno Plati: Foi um processo um pouco diferente, mas muito interessante. O David basicamente fez um storyboard com os diálogos, que eu adaptei à minha maneira. Fomos sempre falando e discutindo o processo, ou seja a história foi mudando ligeiramente à medida que foi sendo feita. Por vezes achámos que algum personagem devia ser mais desenvolvido, e introduzíamos uma nova sequência com esse fim.
Eu tive sempre liberdade para dar o meu input, e em termos de layout e storytelling a liberdade era total, desde que não fugisse completamente à ideia que se queria passar. Gostei muito de trabalhar com o David e considero-o um amigo.

As Leituras do Pedro: O desenho que utilizaste é bastante diferente do que utilizaste na Marvel e apresenta alguma influência manga. Porque esta escolha gráfica?
Nuno Plati: Quem conheça o meu trabalho, sabe que me consigo mover em vários registos, sempre o fiz, e vem do meu background em ilustração, animação e por aí fora.
O meu desejo era poder trabalhar num estilo muito mais solto e “animado”, e como a história puxava para um ambiente sci-fi, com um toque anime/manga foi por aí que fui e sinto-me bastante à vontade nesse registo.

As Leituras do Pedro: O preto e branco (e cinzento) foi escolha vossa ou da editora? E porquê esta opção?
Nuno Plati: Inicialmente a ideia era termos o início dos capítulos a cores, e o resto a preto, branco e cinzento, como num manga, mas depois acabou por ficar sem as cores.
O formato original do livro era outro, era para ser um pouco menor, entre o formato álbum europeu e comic, e era também o início de uma nova chancela na Glénat apontada a um público adolescente, e como tal escolheu-se este look.

As Leituras do Pedro: Quanto tempo demoraste a fazer este livro?
Nuno Plati: Em termos concretos, devo ter demorado uns 6 meses, mais ou menos, mas na realidade foi quase um ano.
Passo a explicar, um mês ou dois após ter começado a fazer o livro, o meu agente e amigo Joe Prado, da agência Chiaroscuro, arranjou-me a mini série Orphan Age para a Aftershock comics, nos Estados Unidos, e eu acabei por estar a fazer dois livros ao mesmo tempo em registos diferentes, o que foi muito muito desgastante.
Isto aconteceu durante algum tempo, mas como o Orphan Age ainda não tinha data de saída, negociei acabar primeiro o Métanöide, e só depois dar continuidade à mini-série.
Isso fez com que o processo levasse quase um ano, e ironicamente acabei a fazer 2 páginas por dia durante 2 meses para acabar o Métanöide.

As Leituras do Pedro: Como apresentas Métanöide aos potenciais leitores?
Nuno Plati: É um livro para todos os públicos, uma aventura com um toque sci-fi, meio anos 80, despretensiosa, divertida, dramática, com um foco na relação entre dois irmãos e nas escolhas que estes terão de fazer mediante às circunstâncias extraordinárias em que se encontram.

As Leituras do Pedro: Em que estás a trabalhar agora?
Nuno Plati: Neste momento estou a dar uma ajuda no livro da Marvel/Idw Marvel Action Avengers, em que desenho algumas páginas dos números #10, #11 e #12, e em paralelo tenho 3 ou 4 hipóteses na mesa, para o mercado americano e europeu, mas que neste momento ainda não passam disso mesmo.
Se quiserem ver o meu trabalho sigam-me no meu Instagram.

(fotos provenientes do Facebook e do Instagram do autor; imagens disponibilizadas pela Glénat; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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