16/07/2020

José Garcês (1928-2020)





Conheci o José Garcês há uns 30 anos, já era - há muito! - um dos grandes senhores da banda desenhada portuguesa e cruzei-me com ele muitas vezes, no Porto, primeiro, na Amadora, mais tarde.
Autor de personalidade forte - tal como as suas convicções, entre as quais a defesa intransigente das temáticas nacionais como forma de afirmação interna dos autores portugueses - nunca abdicou dessa forma de estar, que sempre afirmou nas muitas conversas que tivemos, sendo notório um crescente desencanto perante o rumo que a BD tomava em Portugal.
Numa carreira com quase 75 anos (!), iniciada em 1946 nas página do mítico O Mosquito (que ele recordou aqui), foram muitas as bandas desenhadas publicadas em muitos dos títulos marcantes (Camarada, Cavaleiro Andante, Fagulha, Zorro, Jacto, Mundo de Aventuras ou Tintin) do jornalismo infanto-juvenil português, mas a sua coroa de glória, tantas vezes afirmada e defendida por ele como um dos pontos altos da sua carreira, foram os painéis ilustrados sobre a Música no século XV, que realizou para o Mosteiro da Batalha.
Se a banda desenhada perde um dos seus veteranos - e um dos seus nomes incontornáveis - eu perco alguém que, apesar do distanciamento dos últimos anos, em que os encontros se espaçaram (demasiado), considerava um amigo [mas curiosamente, foi necessário que falecesse para me aperceber que fazíamos anos no mesmo dia...]
Um amigo que muitas vezes contactou 'o meu caro Cleto!' para anunciar novos projectos, para falar da publicação de um novo livro, para garantir que tinha recebido o meu exemplar dedicado com amizade e consideração pelo seu punho...
São memórias que ficam, muitos livros lidos, um respeito enorme que sempre me mereceu, pesem as diferenças de opinião que tivemos - mas soubemos respeitar.

Até sempre José Garcês, a BD portuguesa e a História de Portugal perderam um cultor e um defensor - e de certeza que é assim que ele gostaria de ser recordado - a nossa cultura ficou mais pobre.

(prancha de O Inferno Verde recolhida no blog O Voo do Mosquito; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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