07/08/2020

Aqui já houve algo

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Merecia - sem sombra de dúvida - ter sido outro título e mais sonante e uma mediatização mais sonante mas, à imagem sóbria e discreta do seu editor, Rui Brito, a centésima edição de BD da Polvo, passou despercebida.
É esta, portanto, prevista para Março último, só há semanas distribuída, uma reflexão serena, ingénua e moderadamente divertida sobre as semelhanças e diferenças entre as duas Alemanhas antes da queda do Muro de Berlim.

 Seguindo uma estrutura de narrativas de poucas páginas, vividas pelo autor ou por alguns dos seus amigos e conhecidos, revela como era(m) a(lgumas) vida(s) na RDA e na RFA antes da sua unificação.
Com um traço simpático, mas que não aguenta uma análise um pouco mais próxima, pela dificuldade de tratamento dos rostos humanos - mesmo num registo caricatural - e pelo escasso preenchimento dos fundos, este Aqui já houve algo funciona como um documentário sereno e pacífico, personalizado à medida das memórias de cada um dos intervenientes, que mostram ter assimilado o passado e as mudanças até ao presente e ultrapassado ambições, sonhos e pesadelos que durante a infância e adolescência os preencheram. Uns conformados, outros desiludidos, uns (ainda) iludidos, outros surpreendidos...
Sem renegar as linhas que abrem este texto, esta demonstração do uso da BD para documentar uma época não tão distante mas já perdida nas brumas de uma História que avança a um ritmo cada vez mais acelerado, talvez não tenha sido assim tão descabida.
Acima de tudo, porque é um exemplo coerente do percurso editorial da Polvo, alicerçado nas criações nacionais, aproveitando as oportunidades - como é o caso do subsídio do Goethe-Institut para este livro - e revelando propostas que mais ninguém se lembra(ria) de editar em português.

Aqui já houve algo
Flix
Polvo
Portugal, Março de 2020
200 x 200 mm, 138 p., cor, capa dura
20,00

(capa disponibilizadas pela Polvo; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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