17/10/2020

Arde Cuba

Desconcertante





Desconcertante. Este parece-me o melhor adjectivo - no momento, pelo menos - para descrever a sensação que me deixou a leitura deste Arde Cuba, nono volume da colecção Novela Gráfica 2020, da parceria Levoir/jornal Público.


Desconcertante no tom. Entre o rigor histórico e a comédia caricatural, reforçados por um traço dúplice, rigoroso na reconstrução da Cuba do final dos anos 1950 em que decorre a acção e o frequente acentuar dos traços expressivos das personagens - à medida, afinal, dos traços de carácter que lhes são apostos.

Desconcertante, também pelo tratamento dado às situações limite, que quase sempre apresentam uma válvula de escape em tom de comédia ligeira - como era ususal no cinema da época - que as esvazia ou pelo menos atenua.

Desconcertante, ainda, pela forma como associa ao registo já vincado, diversas personagens reais como Errol Flynn, Fidel Castro, Ernest Hemingway... mas acaba por oferecer o protagonismo a um fotógrafo ficcionado, claramente pouco à vontade no papel que interpreta.

Coincidindo com o espoletar da revolução que levou Fidel Castro ao poder, Arde Cuba, parte da viagem (real) de Flynn e um amigo fotógrafo a Cuba para entrevistarem Fidel. Arrastados pelo descontrolado remoinho dos acontecimentos, são apanhados entre vários fogos, dos serviços secretos norte-americanos à polícia cubana, dos interesses financeiros instalados aos revolucionários, dos contra-revolucionários aos traidores na sombra, funcionando mais como personagens menores que servem de pretexto para mostrar os acontecimentos históricos de fundo, do que como motores da acção.


Arde Cuba

Colecção Novela Gráfica 2020 #9

Agustín Ferrer Casas

Levoir

Portugal, 17 de Outubro de 2020

170 x 240 mm, 152 p., cor, capa dura

1o,90 €


(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Uma excelente surpresa.

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  2. Até agora a melhor desta série.

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  3. Gosto do traço.
    E gosto IMENSO das cores.
    É um registo menos comum, mas surte efeito, na narrativa.
    Gosto de ser surpreendido.

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