03/02/2021

Café Budapeste + Chevalier Ardent #5 + Notthingham #1

Três vezes 'mas...'


Café Budapeste
Alfonso Zapico
Levoir/Público
Portugal, Setembro de 2019
170 x 240 mm, 160 p., pb, capa dura
17,00 €

O tema - a criação do estado de Israel - é interessante e esta obra até evocou um dos romances que marcou a minha adolescência: o Exodus, de Leon Uris, embora as suas abordagens sejam completamente díspares e sob prismas diversos.

O problema, na minha leitura, é que a narrativa de Zapico, sobre um judeu que no pós-II Guerra Mundial foge da Hungria para a Palestina (já então) em convulsão, se torna demasiado previsível - e até cor-de-rosa, quando tinha tudo para se tornar um murro no estômago - limitando-se este à breve cena narrada pela mãe no campo de concentração de Birkenau. Isto, apesar do ódio absurdo que lhe serve de pano de fundo e mostra amigos contra amigos só porque o xadrez político (religioso, social, racial...) mudou.

Uma obra escorreita, de leitura fácil - também pelo traço rápido e dinâmico do autor - mas que deixa a sensação de ter passado ao lado de algo mais.


Chevalier Ardent L'Intégrale #5
François Craenhals
Casterman
França, Outubro de 2015
220 x 289 mm, 216 p., cor, capa dura
ISBN : 9782203090453
25,00

Naturalmente, há a tendência para olhar para os protagonistas das séries franco-belgas da revista Tintin como heróis perfeitos e infalíveis, mas Chevalier Ardent é uma clara excepção, como pude comprovar nos integrais da Casterman - surpreendido, face à ideia feita que tinha da leitura isolada de alguns álbuns.

Muito jovem, com o coração à beira da boca e com tendência para se encolerizar sem dar ouvidos à razão, Ardent é muito mais humano do que seria expectável. Por essa razão, é ele próprio o seu maior inimigo em boa parte das suas aventuras, deixando-se levar pela ira sem dar ouvidos à razão - ou sequer a explicações. Curiosamente, o outro grande adversário é o Rei Arthus, estabelecendo-se entre os dois uma relação muito próxima da aversão total.

Por tudo isto, as narrativas medievais do jovem senhor de Rougecogne vão além da simples aventura juvenil e a sua leitura cronológica nos 5 volumes integrais que reúnem todas as histórias longas escritas e desenhadas por François Craenhals, bem como entrevistas com o autor e a esposa e diversos elementos sobre a criação e publicação das diferentes histórias, são a forma ideal para proceder a uma avaliação completa da série, que (também) apresenta algumas oscilações, a nível gráfico e narrativo, mais evidentes no seu final.


Notthingham #1: La rançon du roi
Vincent Brugeas e Herzet (argumento)
Benôit Dellac (desenho)
Le Lombard
França, 22 de Janeiro de 2021
241 x 318 mm, 56 p., cor, capa dura
ISBN: 9782803680351
14,75 €

Por vezes, o que parece absurdo - ou no mínimo muito estranho - revela-se uma boa ideia e uma história clássica pode tornar-se completamente diferente.

Aconteceu em Don Vega, por exemplo, e agora, também, com (este arranque de) Notthingham - sendo que precisamos de esperar pela continuação para o confirmar plenamente.

Passo a esclarecer: versão livre, mesmo muito livre do clássico Robin Hood, parte do pressuposto que o salteador que roubava aos ricos para dar aos pobres era - na origem, pelo menos - aquele que todos conhecemos como o xerife de Notthingham - na versão original inimigo jurado do herói imaginado por Howard Pyle.

A seu lado - mas não só... - como instigadora até, está a bela Marian e os motivos que movem o xerife têm menos de altruístas, do que de políticos e passam também por invejas e conflitos latentes.

Com um belo traço realista, boas cores e uma planificação dinâmica, se ainda não encheu completamente as medidas - em especial pela dúvida que o desfecho (provisório) levanta - esta é, sem dúvida, uma série a seguir.


(imagens disponibilizada pelas editoras; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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