Curtas, curtas, curtas
Se não nascida, pelo
menos tornada popular em longos folhetins que se estendiam por
semanas ou meses nos jornais, a banda desenhada, com o advento das
revistas, ganhou relatos mais curtos. Hoje, encontramo-la por toda a
parte nestas duas dimensões - e noutras... - mas a verdade é que há
universos em que à partida não contamos com relatos curtos - e como
é relativo este adjectivo...
É o caso daqueles em
que se movimentam os super-heróis da Marvel ou o ranger
Tex Willer.
Mas
como não há regra sem excepção, hoje deixo
aqui
três exemplos.
A Guerra dos
Reinos: Crónicas de Guerra #1
Inclui:
War of the Realms - War Scrolls (2019) 1; Giant-Man (2019) 1; War of
the Realms - Punisher (2019) 1-3
Jason Aaron,
Josh Trujillo, Ram V., Gerry Duggan, Leah Williams, Chip Zdarsky
(argumento)
Andrea
Sorrentino, Ricardo López Ortiz, Cafy, Marcelo Ferreira, Marco
Castiello, Joe Quinones, Marcelo Poggi e Joe Rivera
(desenho)
Panini
Brasil,
Fevereiro
de 2020
170
x 260 mm, 128
p., cor,
capa cartão
R$ 21,90 / 9,90
€
Esta edição surge integrada num dos eventos em que o Universo Marvel é (cada vez mais) fértil, no caso A Guerra dos Reinos. A Terra invadida pelos exércitos 'divinos' de Malekith é, assim, o pretexto, para encontramos alguns dos heróis da Casa das Ideias em situações limite. Que, com ligeiras alterações, nalguns casos - todos eles? - poderiam ter lugar noutro contexto - até noutros universos.
É o caso da história - pouco curta: 63 páginas! - em que o Justiceiro estabelece um surpreendente pacto com alguns prisioneiros em trânsito, para ajudarem na evacuação de um hospital e, mais do que isso, lutarem juntos por um bem comum: a sobrevivência de todos.
Neste caso, a violência extrema que geralmente associamos ao Justiceiro é a imagem de marca do relato, tal como os sentidos hiper-desenvolvidos do Demolidor marcam a narrativa inaugural, ou a capacidade de mudar de tamanho do Homem-Formiga se destaca quando. mais à frente, ele, o Gigante, Atlas e Golias tentam fazer-se passar por gigantes de gelo...
A fechar uma edição de relatos de grande tensão, a válvula de escape (pois...) surge em quatro curtas - aqui, sim! - páginas, com o impagável humor escatológico de Howard, the Duck...
Almanaque
Tex #52
>
Colheita
sangrenta
Jacopo
Rauch
(argumento)
Alessandro
Poli (desenho)
>
Corrida
pela vida
Giorgio
Giusfredi (argumento)
Alfonso
Font (desenho)
Histórias originalmente publicadas em
Tex Magazine #5 (2019)
Mythos
Editora
Brasil,
Fevereiro
de 2020
135
x 180 mm, 110
p., pb, capa mole
R$
13,90
/ 4,00
€
Disse acima que o adjectivo 'curto' era enganoso, e esta edição prova-o. Colheita sangrenta, que a abre, conta 78 pranchas, volume considerável em muitos outros panoramas editoriais, mas não quando falamos de Tex, cujas aventuras (até há poucos anos) ultrapassa(va)m (praticamente sempre), no mínimo, a centena de pranchas.
Da história, realce para dois momentos fundamentais: o sacrifício humano logo nas primeiras páginas e a perseguição num campo de milho, mais à frente. Fora isso, pode ser encarada como uma aventura tradicional do ranger, a solo, embora com uma surpresa (previsível) quase no final, que confirma uma regra cavalheiresca que Tex não tramsgride...
Quanto a Corrida pela vida, é uma dupla surpresa: pela sua curta (cá está, outra vez) dimensão - 32 páginas - e, principalmente, pela ausência do protagonista esperado, substituído aqui por Gros Jean e Dawn. Confesso que não me ocorre - falta minha ou memória fraca? - nenhuma outra história d(o universo d)e Tex em que ele não esteja presente, mas a verdade é que a dupla (canadiana) escolhida faz todo o sentido num argumento que se desenrola quase integralmente na neve, durante numa corrida de trenós, em que os interesses e os fins, parecem justificar alguns meios.
Num caso e noutro, com a ajuda do traço mais duro e agreste de Poli e Font, os desvios à 'normalidade' texiana são sensíveis, sem serem abusivos, e permitem abordagens diferentes.
Carnificina
Absoluta: Contos Sangrentos #1
Inclui:
Absolute
Carnage: Weapon Plus (2019) 1; Absolute Carnage: Separation Anxiety
(2019) 1; Absolute Carnage vs. Deadpool (2019) 1; Absolute Carnage:
Miles Morales (2019) 1
Jed MacKay, Clay
McLeod Chapman, Frank Tieri e Saladin Ahmed (argumento)
Stefano
Raffaele, Brian Level, Marcelo Ferreira e Federico Vincentini
(desenho)
Panini
Brasil,
Junho
de 2020
170
x 260 mm, 112
p., cor,
capa cartão
R$ 19,90 / 9,20
€
Integrada aqui - à força? - esta edição segue uma lógica um pouco diferente. Igualmente parte de um evento maior - Carnificina absoluta - os relatos nela incluída, nalguns casos encaminham o leitor para o tronco central do evento ou deixam-no 'pendurado' para a edição seguinte.
Não é o caso da história inicial, fechada em si mesmo, que tem o Arma H como principal figura. Ao contrário dos relatos centrados no Deadpool e em Miles Morales que, apontando continuação, podiam terminar - mal...! - por aqui.
Mas, a narrativa mais interessante - aquela que melhor cumpre a regra da autonomia e da diferença - é aquela em que não se vislumbra qualquer super-herói nas suas páginas, um relato com um tom surpreendentemente humano quando estamos perante a possessão de uma família em desagregação pelos acólitos do Carnificina. Ao longo dela, vemos uma coisa, quando na verdade acontece outra e, aplicando um pouco de psicologia, podemos ler o mal extraterrestre como a personificação de um mal humano, por vezes bem real, o que proporciona uma outra interpretação, bem para lá da leitura de um simples relato de super-heróis.
(capas disponibilizadas pela Panini e pela Mythos; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
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