22/02/2021

Vingadores: Sem rumo #2

Disseram 'absurdo'?


Como apontei há dias, por vezes as ideias que parecem mais absurdas, são as que resultam melhor ou de forma mais desafiadora, contornando ou subvertendo conceitos há muitos estabelecidos.
Outras vezes, não.
Ou talvez sim... Como neste caso, em que alguém teve a ideia singular de juntar Conan, o bárbaro - exactamente esse que estão a pensar - à enésima formação dos Vingadores (onde já há um deus grego e um guaxinim antropomórfico falante, por muito absurdo que isto soe...)
Soa absurdo, resulta absurdo, mas no entanto...

...no entanto funciona, pelo menos a três níveis.

Primeiro, pelo ruído mediático que provocou. Aproveitando a boleia do regresso de Conan à Marvel, acompanhando as luxuosas reedições da etapa original na Casa das Ideias no formato omnibus e também de The Savage Sword of Conan, foi uma forma de provocar a nostalgia de (mais de) uma geração e de tentar captar os actuais leitores de super-heróis para um outro género aos quadradinhos.

Depois, no meu caso - espelho de muitos, acredito - cada vez mais admirador confesso do bárbaro criado por Robert E. Howard, por me ter levado a comprar esta edição - mesmo sem ter lido a inicial.

Finalmente, de forma prática, funcionou - de forma admirável! - no primeiro comic incluído nesta edição - Avengers: No Road Home #6 - que captou perfeitamente o espírito das narrativas originais de Howard - na literatura - ou Roy Thomas - na BD. Protagonizada por Conan e a Feiticeira Escarlate (na altura cega), mostra estes protagonistas em perfeita sintonia, complementando-se sem que as suas origens tão díspares interfiram, juntando os respectivos esforços para conseguirem uma presa apetecível. Feitiçaria, força bruta, selvajaria e até sensualidade juntam-se em doses equilibradas para mostrar que, por vezes, o (mais) absurdo até resulta.


Ou não, logo a seguir. Porque, a 'presa apetecida' são os 'três fragmentos da alma de Nyx, a Deusa da Noite' - que desde logo evocam as 6 jóias da manápula do infinito ou os infinitos pedaços do cubo cósmico ou... - e, principalmente, porque a deslocação deste duo para a realidade actual dos Vingadores, esvazia o papel de Conan e mostra-o completamente deslocado numa realidade que, compreensivelmente, não entende e onde se sente um perfeito estranho. Por isso, o seu papel na continuação é pouco menos do que acessório e dispensável, perdurando apenas, desta (afinal) absurda (e triste) ideia, uma única edição que deveria ter funcionado como um one-shot.

A nível super-heróico, a restante narrativa é funcional, com os heróis quase derrotados, após perderem batalha após batalha e fragmento após fragmento, deixando o universo completamente mergulhado na escuridão quase absoluta... mas a conseguirem redimir-se no final, como esperado.

Ou, mais exactamente, a serem redimidos por uma daquelas soluções narrativas a que se vêem forçados os argumentistas, que se deixaram levar pelo entusiasmo, e chegaram a um ponto de não retorno, optando pela solução fácil, de quebra absoluta com o contexto, ao nível de 'afinal foi um sonho' que recorrentemente é usada nos quadradinhos. Ou aqui, de forma diversa, 'aproveitatando' para nos mostrar a Casa das Ideias como a luz que nos ilumina e nos dá a vida. Soa religioso, sê-lo-á para muitos, mas, por Crom (!), em termos de porvir não augura vida fácil para o bárbaro se permanecer na nossa dimensão...


Vingadores: Sem Rumo #2
Inclui: Avengers - No Road Home #6 a #10 (2019, EUA)
Al Ewing, Mark Waid e Jim Zub (argumento)
Paco Medina, Sean Izaakse e Carlo Barbieri (desenho)
Panini
Brasil, Fevereiro de 2020
Distribuído em Portugal a 9 de Fevereiro de 2021
170 x 260 mm, 136 p., cor, capa cartão
R$ 22,90 / 10,60 €

(capa disponibilizada pela Panini; imagens disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

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