07/07/2021

O imortal Hulk #4

Até onde…?


Até onde serão os autores capazes de ir – deixará a Marvel que vão…. - nesta desconstrução aterrorizante da dupla Banner/Hulk?
Porque, se o terror tem sido o tom dominante na série, esta quarta entrega ultrapassa todos os limites – já destruídos – e leva esta releitura do mito do Dr. Jekyll e Mister Hide, a um nível que possivelmente o próprio Stevenson não imaginou – ou não se atreveu a… noutra época, noutros tempos.

Deixem-me explicar.

Com Rick Jones e Betty Banner mortos – tanto quanto alguém no universo Marvel pode estar – com o primeiro desaparecido do cemitério e a segunda assassinada à nossa frente com um tiro na cabeça, Hulk ou Banner – ou mais exactamente os dois – têm tudo para saírem do sério e darem largas à besta e/ou ao louco.

Mas, num golpe de asa admirável, Al Ewing atreve-se a ir (bem) mais longe e faz do ser dúplice, uma enorme amálgama de egos e personalidades, quase apetecendo escrever que onde a criação de Stevenson albergava dois seres num só, o Hulk/Banner de Ewing, reúne todos aqueles que o monstro esmeralda (ou cinzento, ou vermelho…) e o seu alter-ego assumiram ao longo de seis décadas de existência. Dessa forma, do monstro infantil ao cientista brilhante, da besta inteligente ao homem deprimido, do animal à solta ao humano decidido, todos eles surgem nesta nova versão, alterando sucessivamente o tom, o estilo e a forma de ser do(s) protagonista(s) e tornando-se capazes de fazer frente à ofensiva total lançada pelos ocupantes da Base Sombra.

E se esta amálgama é narrativamente muito bem gerida, em termos de diálogos e graficamente, a liberdade que foi concedida ao brasileiro Joe Bennett para plasmar no papel estas múltiplas personalidades e o grau de violência psíquica, literal e também visual que lhe foi permitido mostrar-nos (vejam-se algumas das páginas duplas...), fazem desta obra um caso (quase?) único, que com facilidade saltaria do universo Marvel em que (ainda) está inserida, para uma lista, apesar de tudo curta, de obras notáveis de puro terror.


O Imortal Hulk #4: Abominável
Inclui The immortal Hulk #16 a #20
Al Ewing (argumento)
Joe Bennet (desenho)
Ruy José, Belardino Brabo e Marc Deering (arte-final)
Panini
Brasil, Julho de 2020
Distribuição em Portugal: 10 de Junho de 2020
170 x 260 mm, 120 p., cor, capa cartão
9,90 €

(capa disponibilizada pela Panini; prancha disponibilizada pela Marvel; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. A run Ewing/Bennet está a chegar ao fim.

    Teve altos e baixos mas principalmente altos.

    Vale a pena comprar os Omnibus, para melhor apreciar.

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