Continuidade
A Arte de Autor continua a apostar nas adaptações das obras de Agatha Christie. Este é o quinto álbum da série, sendo que já há mais um editado e outro anunciado, o que parece justificar a opção feita pela editora.
Poirot
recebe uma carta em que alguém
misterioso anuncia que irá cometer uma série de crimes mortais,
ordenados alfabeticamente pelo local em que terão lugar e o apelido
das vítimas. Sucedem-se, assim, os
assassinatos: Alice Archer em
Andover; Elizabeth Barnard, em Bexhill-on-Sea; Carmichael Clarke, em
Churston. Junto a cada um, em jeito de assinatura, um guia ABC dos
caminhos-de-ferro britânicos.
Desenvolvimento
A grande questão, sempre que está em causa a adaptação de uma obra literária para banda desenhada, é saber se esta última é auto-suficiente em si mesma. Por outras palavras, se pode ser lida e compreendida, sem conhecimento prévio da trama.
Neste caso, o argumentista Frédéric Brémaud cumpriu aquele requisito e, apesar de ter apenas 64 páginas, a sua versão surge bastante consistente e densa. Para isso, contribuíram dois factores: as quatro ou cinco tiras por página em que assenta a planificação e a profusão de diálogos e textos de apoio. Este último aspecto, no entanto, poderia ter tido uma melhor gestão, já que num ou noutro caso eles poderiam ter sido suprimidos, sem qualquer perda para sequência e a compreensão do relato, que surgiria mais leve aos olhos do leitor.
Graficamente, se de início a opção por diferentes tomadas de ponto de vista se revela interessante, com o avançar das páginas acaba por ser um pouco cansativa. As dificuldades do desenhador, Alberto Zanon, com a figura humana também são evidentes, nomeadamente ao nível dos pescoços, aparentando as personagens, na maior parte dos casos, que sofrem de ferozes torcicolos.
Narrado por Hastings, aqui de regresso ao convívio com Poirot, após uma estadia no seu rancho nos Estados Unidos, este Os Crimes do ABC revela-se fiel ao romance de Agatha Christie, cuja originalidade contribui para atenuar os aspectos citados e proporcionar uma leitura agradável, com as células cinzentas de Poirot e o seu típico humor a conduzirem o leitor - a par das personagens - até à descoberta do responsável pelos crimes.
A reter
- A fidelidade ao original;
- a auto-suficiência da obra em BD;
- a aposta continuada da editora nesta série.
Menos conseguido
- Alguns excessos pontuais de texto;
- os pescoços dos intervenientes.
Comentário final
Podendo proporcionar uma hora de leitura entretida a qualquer interessado, esta é uma daquelas obras que se dirige primeiramente a um leitor generalista e não tanto a quem lê regularmente banda desenhada.
E quão importante é que haja obras assim no nosso mercado!
Hercule
Poirot: Os crimes do ABC
Frédéric
Brémaud (argumento)
Alberto
Zanon (desenho)
Arte
de Autor
Portugal,
Setembro
de 2021
210
x 285
mm, 64
p.,
cor,
capa dura
16,50
€
(imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Confesso que fui verificar 2 vezes a data deste comentário para me certificar que era de hoje. Se eu já estou a terminar a leitura do INICIO ERAM DEZ..adquirido no Amadora BD, parece-me enviesado e fora do contexto do certame vir agora comentar um álbum saído há mais de 1 mês. Claro, compreendo que o Pedro não tenha tempo para ler de imediato todos os livros ou publicar atempadamente as suas análises ma esta pareceu-me um pouco metida a martelo
ResponderEliminarNão tive aínda acesso ao ultimo volume da colecção, mas este é, para mim, o melhor de todos, até agora publicados!
ResponderEliminarPara quem nunca leu o romance original de Agatha Christie o argumento deste No Início eram dez é brutal. Para além de bem desenhado e por causa da história este é um livro que só se abre uma vez pois depois de iniciada a leitura não conseguimos parar até ao climax final. Também gostei dos Crimes do ABC
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