Fim do caminho
Sem prejuízo de uma leitura posterior completa de seguida - quando os dias tiverem mais de 24 horas… - que possa proporcionar outras perspectivas ou encaixar mais satisfatoriamente alguns pormenores, atrevo-me a ‘fechar’ aqui, hoje, uma das mais intrigantes - e por isso desafiadora - séries que li nos últimos anos e que a G. Floy completou, na íntegra, no final de 2021.
Tenho para mim que este tipo de história - misto de terror e de fantástico - nunca pode ser fechada de forma absoluta e conclusiva, porque isso trairá sempre as expectativas do leitor - de cada leitor… - mantidas muito altas pela narrativa intrigante e pelas muitas questões que os autores pretenderam deixar em aberto, para que cada um as interprete e responda de acordo com a sua sensibilidade.
Por outras palavras, este tipo de história ‘termina’ - ou ‘fica em aberto’ - em função da leitura personalizada de cada leitor.
Isto que até agora escrevi é, sem dúvida, o mesmo que dizer que respostas ficaram por dar, portas por fechar, situações por esclarecer. O que, inevitavelmente, deixa um certo sentimento de desapontamento, embora a componente interpretação possa - e deva - levar à devida compensação.
Dito isto, acrescento, em jeito de resumo, que nesta sexta e última compilação, as personagens que até agora evoluíam em realidades paralelas e complementares se vão reunir no celeiro negro para enfrentarem os seus maiores medos. E perceberem - e nós com eles - que nem tudo era linear nem evidente e que, por vezes, o que buscamos longe está mesmo ao nosso lado. Diz a minha interpretação...
A mesma que, como até aqui, faz com que me sinta obrigado a destacar mais uma vez o fantástico trabalho gráfico de Andrea Sorrentino e a forma como ele e o argumentista Jeff Lemire foram capazes de transcrever graficamente - sem beliscar a legibilidade e a força da narrativa - o conceito que está na base de Gideon Falls: universos complementares, paralelos, que diferem uns dos outros em pequenos pormenores, causados por escolhas diferentes em momentos similares. O que, na prática, os (pode) multiplica(r) até ao infinito.
Se a tranche final do relato que abre este livro soa curta e nos deixa a querer mais, o dossier final, com páginas do guião e algumas ilustrações, fecha-o com chave de ouro no posfácio da autoria do próprio Lemire, que conta a génese da série e do conceito e avança algumas explicações que podem proporcionar pistas e confortar o leitor.
Gideon
Falls #6 O Fim
Inclui
Gideon Falls #27 e Gideon Falls Deluxe Edition Book One
Jeff
Lemire (argumento)
Andreas
Sorrentino (desenho)
Dave
Stewart (cor)
G.
Floy
Portugal,
Dezembro de 2021
190
x 280 mm, 128 p., cor, capa dura
14,00
€
(imagens disponibilizadas pela editora G. Floy; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas imagens aqui reproduzidas para as apreciar em toda a sua extensão)
Gostei bastante e na minha opinião a série foi bastante bem concluída, o Lemire conseguiu manter a coerência do argumento até ao final, e se isso era difícil. Não sou grande fã de finais em aberto, mas neste caso acho que ficou a fazer mais sentido.
ResponderEliminarAo ler pareceram-me inevitáveis as comparações com a série televisiva Dark, cujo argumento sobre universos paralelos tem diversos pontos de contacto com o GF embora muito mais pelo lado de ficção cientifica e não pelo lado do terror.
A arte do Sorrentino é tão surreal e sensacional quanto o argumento, simplesmente fantástica a forma como desconstrói a tradicional arrumação em vinhetas.