Não devia, mas...
À
partida nada o indicaria.
Não
sou especialmente apreciador do desenho de Joann Sfar, não sou muito
dado a leituras filosóficas, assistir a uma dissertação ao longo
de meia centena de páginas não me atrai especialmente.
Mas…
Mas
a verdade é que sendo estas (algum)as (das) características de O
Gato do Rabino,
a verdade é que,
conquistado desde o seu início, volume após volume sinto-me rendido
ao autor e à obra.
Porque, antes de mais, Joann Sfar é um excelente narrador. O seu traço pode não ser esteticamente perfeito ou atraente, mas atinge um grau de funcionalidade assinalável para narrar sequencialmente. Através dele, o autor arrasta-nos ou pára-nos; passeia-nos ou faz-nos observar; leva-nos a grandes espaços ou confina-nos em localizações apertadas. Com ele, mais um gato que fala (às vezes), uma jovem grávida ou um velho rabino, reflecte sobre as mudanças familiares - a vários níveis... - causadas pelo nascimento de um bebé, questiona a relação do homem com Deus - qualquer homem, qualquer deus; apresenta-nos a vida e os seus objectivos sobre prismas distorcidos pelas suas verdades, comprova como boas intenções nem sempre conduzem a bons resultados...
E, dessa forma, ao longo de (mais) meia centena de páginas, embala-nos numa conversa séria, que pode ser lógica, provocadora, incómoda... sem que nos apercebamos que nos afastou da nossa zona de conforto.
E também sem que nos importemos com isso.
O
Gato do Rabino #6 Não terás outro Deus além de mim
Joann
Sfar
Ala
dos Livros
Portugal,
Outubro de 2021
220
x 295 mm, 56 p., cor, capa dura
16,00
€
(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
A editora irá reeditar os primeiros volumes como faz com outros titulos?
ResponderEliminarUma pena que uma das obras maiores do Sfar tenha sido tão maltratada aquando da sua edição (parcial, como de costume!) em português... Para não variar.
ResponderEliminarA série Donjon, criada por Sfar e Trondheim, e que conta com as ilustrações de outros grandes nomes como Larcenet, entre outros.
Não sendo condição sine qua non para desfrutar da série, para quem jogou RPG de high-fantasy (versão "old school", de tabuleiro, preferencialmente), principalmente D&D.
Não posso deixar de concordar com O Estranho nesta matéria. A questão coloca-se: porque não relançar a série em albúns duplos, permitindo assim ao leitor ter a perspectiva de uma conclusão em prazo útil razoável? Relembro que a série já conta com 12 albúns na totalidade e terá, penso, continuação. Lançar um albúm simples de forma avulsa e "desgarrado" de qualquer compromisso de continuidade faz pouco sentido...
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