O Imortal Hulk #9

Para que serve uma capa…?

A pergunta acima faz todo o sentido e já vou discorrer um pouco sobre o tema mas, para já, peço que apreciem com atenção (de novo?) a capa ao lado que originou este texto e que evocou em mim (um)a (versão da) velha anedota:
‘O Coisa e (um) Hulk (às vezes são tantos…) entram num bar e…’

E olhando então para a capa, poderia continuar assim “...e sentam-se numa mesa a cavaquear. A empregada aproxima-se com a cafeteira de café na mão e…’

Pergunta-lhes se têm dinheiro (onde?) para pagar? Questiona a indumentária deles num lugar público e decente? Apesar da sua estatura e volume, sente-se pequena perante aqueles dois monstros? Pergunta-se porque não ficou na cama nessa manhã? Pensa quantas cafeteiras daquelas vai ter de esvaziar para os saciar? Pura e simplesmente questiona o que desejam e vai preparar o pedido?

Estas são algumas das hipóteses que a imagem nos suscita e outras tantas, em vários tons poderiam ser adiantadas.

Mas volto à pergunta que encabeça este texto: “Para que serve uma capa?”

A resposta mais simples é: para vender o produto da qual ela representa o primeiro contacto com o leitor. Uma capa atractiva, vende mais; uma capa desenxabida, vende menos [sabendo nós todos que a capa é bem mais do que a ilustração que salta primeiro à vista; os nomes nela contidos são também relevantes…]

Há vários tipos de capas:

- a genérica, que serve para todos as narrativas semelhantes ou do mesmo género. Como um cowboy a cavalo ou a disparar o seu colt; um detective perante um cadáver; um super-herói a cruzar os céus…;

- a completamente genérica, quando a imagem que utiliza não tem nada a ver com o conteúdo interior. A CIMOC era useira e vezeira neste tipo de situação, com capas com mulheres de parca indumentária ou visões futuristas sem correspondência nas histórias que continha;

- a enigmática, que apresenta uma imagem baseada no relato, que desperta o interesse e a curiosidade do leitor para a história. Como o herói numa situação perigosa, mas sem que saibamos como chegou ali ou que vilão o colocou nela;

- a reveladora que, em oposição à enigmática, e até podendo partir da mesma imagem, revela quem é o vilão ou como o herói escapa do momento limite que vivia, destruindo o prazer da leitura;

- a mentirosa, porque expõe o protagonista numa situação que não existe no relato ou parte de uma situação limite dele, mas apresenta um desfecho diferente do imaginado pelos autores;

- a curiosa, quando apresenta os protagonistas numa cena, num cenário ou numa pose que não combina com o seu espírito ou o seu género; cabem aqui (algum)as ‘homenagens’ ou provocações divertidas;

- a artística [que por vezes coincide com a ‘completamente genérica’, que existe por sua causa e não para promover a edição, embora nem sempre seja assim…] que funciona como alimento para o ego do seu desenhador e/ou é usada como variante nalgumas edições.

Não sendo esta relação de categorias exaustiva nem elas muitas vezes incompatíveis nem estanques, parece-me ser possível dizer que esta capa de Alex Ross para O Imortal Hulk #9 seria, simultaneamente, enigmática e curiosa, mesmo partindo basicamente de uma situação que se desenrola no relato que a edição contém.

Por isso ou independentemente disso, já cumpriu o seu propósito: chamou a atenção para o produto, originou este texto e possivelmente levará alguns dos que o leram a procurarem a edição para perceber o que acontece quando ‘...o Coisa e o Huk chamar a empregada e...’

O Imortal Hulk #9
Compila os comics Immortal Hulk (2019) #41-#45
Al Ewing (argumento)
Joe Bennett, Adam Gorham, Alex Lins, Rachell Stott (desenho)
Ruy José e Belardino Brabo (arte-final)
Alex Ross (capa)
Panini
Brasil, Novembro de 2021
179 x 260 mm, 120 p., cor, capa cartão
R 22,90 / 9,90 €

(capa disponibilizada pela Panini; pranchas disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)