15/11/2022

O seu nome é Banksy

Biografia de autor anónimo


Como traçar a biografia de um autor desconhecido? A resposta não é simples, mas O seu nome é Banksy, recém-editado pela Iguana, uma nova chancela da Penguin Random House, (também) dedicada à banda desenhada, apresenta uma hipótese viável.
Os autores, os italianos Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi, optaram por construir uma narrativa em torno da obra e das eventuais motivações do street artist mais famoso, por muito paradoxal que isto possa soar.

Com a acção a decorrer em Londres, o livro abre com uma jovem a tentar fotografar às escondidas um rapaz que pinta um mural. Um breve incidente entre eles faz com que acabem numa esquadra da polícia, onde vão travar conhecimento. Ela é responsável por um canal online em que faz directos sobre arte urbana em geral e sobre Banksy em particular; ele tenta ainda encontrar o seu caminho.

Através da relação que se vai desenvolvendo entre os dois e das conversas que vão tendo sobre as razões e as motivações do famoso graffiter, vão introduzindo ao leitor o mundo deste último e muitas das dúvidas e incertezas que pairam sobre ele.

Por opção, que será sempre muito questionável, ou por impossibilidade de reproduzir as pinturas originais do autor, devido a questões de direito de imagem, para o leitor torna-se um pouco estranho vê-las analisadas e discutidas ao longo da obra, sem no entanto as poder ver nas páginas do livro, pois seriam a porta de entrada ideal para o mundo do protagonista que está a ser biografado.

Apesar disso, a abordagem dos dois italianos consegue manter o interesse sem revelar o que não é possível, destacando mesmo que mais do que conhecer a sua identidade, a manutenção da dúvida e do mistério fazem recrudescer o interesse por ele e pela sua obra, que é o que verdadeiramente importa.

Graficamente, mesmo tendo em conta as limitações impostas pela sucessão de conversas, em ambiente fechado ou nas ruas, junto das paredes que foram condenados a limpar, o relato proporciona uma leitura fluída, embora aqui e ali se detectem alguns problemas de proporção.

Apesar de tudo isto, o livro tem um final bem conseguido, ao afirmar inequivocamente e com um belo artifício visual que o importante é que a arte modifique a maneira como vemos as coisas e provoque uma reacção por parte de quem a desfruta.


Notas finais

Uma primeira nota para referir a forma inteligente como a Iguana aproveitou o Amadora BD para distribuir os seus sacos que se viam constantemente por todo o espaço, despertando a curiosidade e, em alguns, a vontade de terem um.

A segunda nota vai para o pequeno folheto A5, de 24 páginas, que antecipa este O seu nome é Banksy e também Patti Smith, que vem inserido no interior dos livros, servindo de chamativo para a outra edição.


O seu nome é Banksy
Francesco Matteuzzi (argumento)
Marco Maraggi (desenho)
Iguana
Portugal, 7 de Novembro de 2022
170 x 240 mm, 128 p., cor, capa dura
18,85

(versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Novembro de 2022; imagens disponibilizadas pela Iguana; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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