03/11/2022

Pedro e o Imperador - Entrevista tripla



Lançado no recente Amadora BD, Pedro e o Imperador parte de um encontro surreal para discutir os contratempos do império. Assinado pelo argumentista brasileiro Marcos Batista e pela desenhadora portuguesa Joana Afonso, numa co-edição das editoras Lote 42 e Polvo, é um álbum integrado nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil.
É também o primeiro livro de um projecto que pretende juntar autores e editores do Brasil e dos PALOP e faz parte do Programa Brasil em Quadrinhos, criado em 2019 pelo Ministério das Relações Exteriores - Itamaraty, com apoio e produção da Bienal de Quadrinhos de Curitiba.
Foi o pretexto para realizar mini-entrevistas ao editor português, Rui Brito, da Polvo, e aos dois autores.

Já a seguir podem ler as versões integrais das entrevistas que estiveram na base do texto publicado na página online do Jornal de Notícias, no passado dia 28 de Outubro.


Rui Brito: “O facto da Polvo já ter publicado bastantes autores portugueses e brasileiros, foi um dos motivos do convite”


As Leituras do Pedro - Como entrou a Polvo neste projecto?

Rui Brito - Foi através um convite do Programa Brasil em Quadrinhos, através da Bienal de Quadrinhos de Curitiba. O projecto pretende publicar obras de Bandas Desenhada, juntando autores e editores brasileiros com autores e editores de países PALOP. Um livro por país, por agora. Neste caso, Portugal será o primeiro país envolvido, com a união entre o Marco Batista (argumentista brasileiro) e a Joana Afonso (desenhadora portuguesa) e as editoras Lote 42 (Brasil) e Polvo.


As Leituras do Pedro - Como se densenvolveu o projecto?

Rui Brito - Cada editora propôs a sua escolha em termos de autores, que tiveram total liberdade criativa para abordar o tema. A evolução dos trabalhos foi sempre acompanhada pelos intervenientes no processo.

No Brasil, o livro foi publicado há poucos dias, em Portugal foi no Amadora BD. O facto da Polvo já ter publicado bastantes autores portugueses e brasileiros, foi um dos motivos do convite.

As Leituras do Pedro - Já há mais algum título em preparação?

Rui Brito - Sei que há outros títulos em preparação, entre editoras brasileiras e de outros países, mas não sei em que estado estão.

_____________

Joana Afonso: “Fiquei aberta à novidade e à oportunidade de participar num projecto além-fronteiras”


As Leituras do Pedro - Como chegaste a este projecto?

Joana Afonso - Tudo começou com um convite/proposta por parte do Rui Brito. A ideia agradou-me, era algo que nunca tinha feito, uma BD mais histórica, apesar de no final me aperceber que a narrativa ia para além dos dados mais factuais. Assim, fiquei aberta a essa novidade e à oportunidade de participar num projecto além fronteiras.


As Leituras do Pedro - Como é que tu e o Batista coordenaram o trabalho?

Joana Afonso - Quando o projecto avançou e tive a oportunidade de conhecer a história e o argumentista (Marcos Batista) por detrás dela, fomos debatendo as melhores formas de resolver a narrativa visual. Algo que também ajudou bastante foi o trabalho do Marcos na pesquisa de fontes fotográficas dos espaços em que a história se desenvolveu. Trabalho difícil, pois existem situações que não estão documentadas, nessas, adaptou-se da melhor forma os espaços e épocas.


As Leituras do Pedro - Que tal foi a experiência de trabalhar um tema histórico?

Joana Afonso - Não sendo um projecto inteiramente histórico, no sentido mais tradicional, pois a narrativa extravasa um pouco a realidade, talvez o maior desafio tenha sido a procura desse equilíbrio entre o real e o imaginado, ou o de aliar a parte documentada que existiu e a ficção.


As Leituras do Pedro - Como vês o resultado final?

Joana Afonso - No meio das adversidades, posso dizer que fiquei feliz com o resultado, já que, para além desta preocupação histórica, o trabalho é realizado apenas a preto a branco, algo que não estou muito habituada, pois, no geral, utilizo bastante a cor no meu trabalho. Só posso estar empolgada com esta história ver a luz do dia e ter finalmente um exemplar para folhear.

_____________

Marcos Batista: “Acho que o bicentenário da independência do Brasil recebeu uma bela homenagem da nossa parte”


As Leituras do Pedro - Como chegou a este projecto?

Marcos Batista - Por um convite da editora Lote 42, o que foi uma grata surpresa. Minhas produções de BD são histórias curtas, de humor em sua maioria, e fiquei feliz de enxergarem em meu trabalho potencial para um projecto como esse. Mas de certa forma creio que o que me levou a Pedro e o Imperador nasceu muitos anos antes, na emoção despertada em mim pela primeira vez que vi o Tejo, e que sinto até hoje quando o revejo. Minhas visitas a Portugal são sempre muito emocionantes, e este projecto, de certa forma, me deu a possibilidade de amadurecer um afeto profundo surgido na beira deste rio.


As Leituras do Pedro - Como nasceu a ideia de Pedro e o Imperador?

Marcos Batista - Pensava em contar uma história sobre Pedro IV em alguma perspectiva que fosse nova, quando percebi melhor a figura de Pedro II, o filho deixado pra trás, e logo ele se tornou figura central pra mim. Vi que ele é uma figura trágica, e que por meio dele poderia falar de assuntos que nos afligem ainda hoje como abandono, escravidão, política, colonialismo, masculinidade e o resgate de afetos.


As Leituras do Pedro - Como foi coordenado o trabalho com a Joana Afonso?

Marcos Batista - Tivemos breves reuniões em que pudemos nos conhecer um pouco mais e lhe explicar o que queria contar com a história, como imaginava a personalidade de cada um dos Pedros. Tive liberdade total para escrever e lhe disse que também tivesse para desenhar. Entendo que ela é uma óptima artista e gostaria que ela tivesse total liberdade para se expressar. E creio que ela o fez.


As Leituras do Pedro - Como vê o resultado final?

Marcos Batista - Achei o trabalho muito fixe! Logo que recebi o livro me sentei em um bar e me pus a ler. Acho que consegui um distanciamento saudável do texto - que escrevi em 2020 e que como quase tudo daquele ano já me fugia à memoria - e conseguir ler a história com olhos de surpresa, muito em função dos desenhos incríveis de Joana que dão novo sentido à tudo que imaginei, e tanto ri quanto me emocionei.

Acho que, da nossa parte, o bicentenário da independência do Brasil recebeu uma bela homenagem.


(imagens disponibilizadas pela Lote 42 e pela Polvo; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)

1 comentário:

  1. Boas Pedro tive a oportunidade de folhear e comentar com o editor este preciso volume na última Amadora BD. Considero-a uma obra relevante, para a data que comemora, mas que informa de algumas lacunas visuais, a primeira das quais, evidente em relação ao traço da Joana que, decididamente, é valorizado pela cor. Porquê a opção apenas pelo P/B quando se poderia ter optado, por exemplo, por um duotone ou tritone ou mesmo uma arte em escalas de cinzento? Outra situação tem a ver com o grafismo da capa que, na minha opinião, poderia e deveria ter sido melhor trabalhado. O pequeno formato do livro também não ajuda.Esperemos que futuramente haja uma revisão deste trabalho que faça justiça á arte da Joana.

    ResponderEliminar