31/01/2023

As guerras de Albert Einstein 1 e 2

Entre duas guerras

Se é o nome de Albert Einstein que surge na capa deste díptico editado pela Gradiva em português, a verdade é que ele traça a sua biografia em paralelo com a de um dos seus grandes amigos, o químico Fritz Haber.

Dois homens, dos prémios Nobel, com uma relação próxima, mas tumultuosa, que expõe uma interessante dualidade: um deles, Haber, o nacionalista germanófilo convicto que não se importa de pôr as suas descobertas, no caso o amoníaco que daria origem ao gás mostarda que provocou tantos massacres nas trincheiras, ao serviço dos militares alemães na Primeira Grande Guerra; o outro, o pacifista convicto, Einstein, ciente da importância da sua descoberta e da sua influência, mas temeroso do uso bélico - a construção da bomba atómica - que poderia advir dela. No final, ambos entregaram aos militares as suas descobertas científicas pela mesma razão: o fim da guerras; um por convicção, outro por não ver outra solução. O resultado? O mesmo: milhares, milhões de mortos…

Este tipo de obras tem diferentes tipos de destinatários. Por um lado, aqueles que gostam de banda desenhada, pura e simplesmente. O chamar de um argumentista com provas dadas, como é Corbeyran, garante a fluidez do relato, através de uma verdadeira abordagem em BD e não como texto ilustrado. Depois, As Guerras de Albert Einstein tem também tudo para agradar a quem gosta de biografias ou de narrativas históricas. A pesquisa que esteve subjacente à construção da obra é evidente e notória e ela apresenta-se de grande solidez e credibilidade, permitindo abordar o trajecto de vida de Einstein e Haber e daqueles que com eles conviveram e explorar o retrato de época. Finalmente, uma biografia em BD serve também para atrair aqueles que temem a leitura de compêndios mais volumosos e que encontram na banda desenhada uma aproximação mais ligeira e atractiva.

É evidente que este último aspecto nem sempre é verdade porque também para ler banda desenhada é preciso prática e treino e conhecimento do seu funcionamento e as coisas não são tão evidentes, como pode parecer a quem desde sempre leu histórias aos quadradinhos.

Graficamente a narrativa funciona bem, com uma divisão da prancha mais tradicional muitas vezes desfeita pelas vinhetas de grande dimensão para cenas de conjunto ou pormenores relevantes que ajudam a dar ao relato um outro dinamismo e permitem ao leitor espraiar o seu olhar pelo desenho enquanto a História decorre em fundo. Essas cenas de conjunto tanto podem levar-nos à tranquila Zurique suíça ou à imponente Berlim alemã do pré-guerra, como nos podem mergulhar de forma mais chocante e violenta nas consequências trágicas da aplicação da ciência aos objectivos militares, transubstanciada em campos a perder de vista pejados de cadáveres e de destruição.

O que afinal nenhum dos dois cientistas queria, surgindo este mal menor (?) como peso insuportável para ambos, ao mesmo tempo que os humaniza, ao fazer ressaltar as dúvidas, ressalvas e remorsos que sentiram.


As guerras de Albert Einstein 1 e 2
Closets, Corbeyran e Chabbert
Gradiva
Portugal, Setembro e Outubro de 2022
233 x 313 mm, 64 + 56 p., cor, capa dura
19,50€ (cada um)

(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias online a 20 de Janeiro de 2023 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Sobre a mesma temática (mas mais focado em Fritz Haber) recomendo o excelente trabalho de David Vandermeulen

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