13/03/2023

Anjinho: Além

Anjo ou demónio?


Entre as (muitas) qualidades das Graphic MSP - o selo editorial dedicado apublicar versões de autor das personagens criadas por Maurício deSousa - está a demonstração da diversidade, vitalidade e potencial de todos esses heróis.
Se todos éramos capazes de referir a Mônica, o Cebolinha, a Magali, o Cascão ou o Chico Bento quando questionados sobre as criações daquele autor brasileiro, enquanto leitores das Graphic MSP podemos (re)descobrir a Turma da Mata, o Papa-Capim, o Jeremias ou o Capitão Feio. Ou, agora, o Anjinho.
Nas novas versões, claro, que evocam as antigas.

[Abro aqui um curto parêntesis para justificar - desnecessariamente - este texto, pela actual distribuição, num regresso que se saúda, em algumas bancas e quiosques portugueses deste título - Anjinho: Além - aproveitando para referir, porque muitos desconhecerão, que também pode ser encomendado através da loja da Panini Portugal)

Retomando o fio à meada, convém vincar que sendo muitos deles personagens menores - na quantidade de aparições… - no vasto universo de Maurício de Sousa, surgem aqui como heróis - leia-se ‘protagonistas’ - de corpo inteiro, com qualidades, defeitos, sonhos e anseios como as que nos habituámos a ver na primeira linha - justificando o destaque e, nalguns casos, pedindo mais oportunidades das versões originais.

Anjinho, o ser sobrenatural que surge episodicamente nas histórias no Bairro do Limoeiro, é mais um caso. Inevitavelmente, apetece escrever, a abordagem teria que recair na questão das motivações do ‘anjo da guarda’, embora Max Andrade o faça pela óptica inversa. Ou seja, colocando o Anjinho como ser rebelde - à imagem bíblica de Lucifer, com o devido distanciamento - abrindo a história - desculpem a revelação - com a sua expulsão do Céu (podendo aqui ler-se também ‘Paraíso’).

Renegado por Deus, por isso com uma imensa revolta interior que vai fazer sobressair uma interessante dualidade anjo/demónio seu comportamento diário, Anjinho tem uma semana para descobrir - na Terra - o que o pode levar de regresso às ‘maiores alturas’.

História de uma criança deslocada, movida pelas razões erradas, (des)motivada por algo inatingível por si só, o Anjinho embarcará numa tripla aprendizagem: descobrir quem é, quem são os outros e como pode ser o que deseja.

Se o traço de Max Andrade, onde são claras as influências do mangá - e leia-se esta referência apenas enquanto tal e não como crítica ou menosprezo - não me cativou sobremaneira, talvez devido ao que me pareceu uma simplicidade excessiva, já o argumento revela-se enganadoramente previsível, tendo-me surpreendendo sucessivamente pois, mais do que uma vez, tive a sensação de que a narrativa ia terminar, o que era contrariado pelo volume de páginas que (ainda) faltavam até ao final do livro, o que implicou a capacidade do autor ir mais além do que o leitor - eu, no caso - estava à espera.

Uma referência (termo propositado) ainda, para as muitas referências que Andrade espalhou pela sua história, citando (ou escondendo) momentos de outras Graphic MSP e as múltiplas personagens de Maurício que vão passando pelas pranchas, no que de alguma forma é uma contribuição não desprezável para (um)a (ilusória) unicidade de um universo - o das Graphic MSP - que na verdade o nega pela multiplicidade de temáticas, estilos e abordagens com que nos seduz e deslumbra.


Anjinho: Além
Max Andrade
Panini Comics
Brasil, Maio de 2022
190 x 275 mm, 96 p., cor, capa cartão
R$ 39,90 / 10,00€

(imagens disponibilizadas pela Panini Comics e o editor Sidney Gusman; clicar nesta ligação para ver mais imagens ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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