19/05/2023

Nestor Bruma #4 Boulevard… Ossada

Tardi será sempre Tardi, mas...


Porque, por muitos que venham depois dele, que continuem o seu trabalho, o copiem ou o homenageiem, Tardi será sempre o primeiro e o único e (a sua) Paris será sempre Paris.
Mas isso não invalida que outros a possam retratar e/ou continuar aquilo em que ele foi pioneiro. E fazê-lo de forma competente e conseguida, como acontece neste quarto volume do Nestor Burma pós-Tardi.

E fê-lo, até, de forma mais competente e conseguida que Moynot, que Tardi designou para seu sucessor na adaptação dos romances policiais de Léo Malet.

É óbvio que a referência gráfica - a que foi criada e desenvolvida por Tardi a preto, branco e cinza nas (suas) quatro primeiras adaptações - é a mesma, mas Barral, ao contrário do que até aqui fizera Emmanuel Moynot, revela um traço mais solto, menos rígido - menos preso até à referência base - conseguindo dessa forma propor uma leitura mais fluída e agradável, com as personagens centrais mais vivas e emotivas e melhor integradas na paisagem urbana parisiense e mais credíveis e dinâmicas aos olhos do leitor.

Inevitavelmente em Malet, o que começa de forma simples - no caso um pedido de informações sobre uma determinada personagem chinesa - acabará por sofrer um efeito de bola de neve e de diamantes roubados à luta pelo poder na Rússia bolchevique e estalinista, haverá de tudo em mais este romance desenhado, sem esquecer os cadáveres que se vão sucedendo à esquerda e à direita.

E porque o romance base o propiciava, porque já interiorizei as personagens de Malet ou porque Barral se saiu melhor das sua tarefa, este pareceu-me do duplo ponto de vista de explanação do argumento e do seu respectivo enquadramento gráfico, o mais legível dos quatro volumes que a Gradiva já propôs aos leitores portugueses.


Nestor Bruma #4 Boulevard… Ossada
Nicolas Barral
Baseado no romance de Leo Malet e no universo gráfico de Jacques Tardi
Gradiva
Portugal, Abril de 2023
225 x 297 mm, 88 p., cor, capa dura
16,50 €

(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

1 comentário:

  1. O meu problema com estas edições é o Moynot estar a imitar o estilo de Tardi e eu detesto isto, assimo como detesto quando fazem o mesmo com o Pratt naquela espécie de pastiche do novo Corto Maltese, podiam mudar de estilo de desenho, é irritante, sem prejuízo para as excelentes estórias policiais de Malet, que eram romances antes da adaptação para BD.

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