17/07/2023

Super Mickey

Sem demasiadas ousadias,
mas...


A grande vantagem das versões autorais de heróis consagrados é a possibilidade de cada um apresentar uma abordagem diferente - evidentemente umas são mais conseguidas do que outras, umas mais ousadas, outras mais tradicionais - mas todas elas trazem um olhar novo e estimulante sobre heróis que já conhecemos.
Isto tem acontecido, de forma mais continuada, com Spirou, com Lucky Luke e também com os heróisDisney nas versões alternativas que a Glénat tem proposto.

Super Mickey, com a assinatura de Pieter De Poortere, é mais uma delas, assente num traço naif de linha grossa, (quase) completamente desprovido de pormenores para que a sua legibilidade seja total. Para além disso, como o autor tem feito tantas vezes, tem também a particularidade de apresentar histórias sem qualquer palavra, o que obriga a atenção redobrada por parte do leitor e por lhe entregar uma quota-parte não desprezável na interpretação do relato, que é como quem escreve, na sua própria construção, não sendo impossível que leitores diferentes leiam histórias diferentes - façam leituras diferentes da mesma história...

Para além disso, este álbum apresenta-se como uma (pretensa) compilação de quatro revistas, cada uma delas com capa própria e uma última página com passatempos, evocando, conjuntamente com o colorido escolhido e mesmo o traço simplificado, épocas mais antigas e mais livres tematicamente, sem necessidade de obediência submissa às amarras do politicamente correcto que hoje impera.

Apesar disso - e porque De Poortere já tem tido algumas propostas mais provocadoras - apesar de um ou outro apontamento mais subversivo, não se atreveu a grandes ousadias que certamente não seriam permitidas pelo ‘caderno de encargos’ que inevitavelmente heróis os Disney traziam a reboque.

Nesta sua abordagem, o autor flamengo começa por nos (re)contar a origem do SuperPateta, partindo daí para algumas super-aventuras simples, lineares e divertidas e com um ritmo bem conseguido, que não só dispõem bem como também evocam memórias nostálgicas do tempo em que ler era só um belo divertimento e a entrada garantida em mundos capazes de nos maravilhar.


Super Mickey
Pieter De Poortere
Glénat
França, 2019
240 x 320 mm, 64 p., cor, capa dura, lombada com tela
15,00 €

(imagens disponibilizadas pela Glénat; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. O que isto me faz lembrar?
    Squeak the Mouse de Massimo Mattioli.
    Uma abordagem adulta e iconoclasta ao género Disney, que apreciei bastante na revista brasileira Animal, acho que foram publicados 3 volumes sobre o personagem, numa mistura de Disney com Tex Avery, metendo zombies e sexo à mistura, recomendo.

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    1. Este do Poortere é bem mais contido do que o do Mattioli.

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