Cadernos Moura BD #12 - Baptista Mendes

Regresso aos Clássicos

Não é a primeira vez que destaco aqui o importante serviço prestado à banda desenhada portuguesa pelos Cadernos Moura BD, ao recuperarem (anualmente) obras originalmente publicadas há décadas em revista, que de outra forma não estariam disponíveis.
Obviamente sei que, mesmo assim, esta edição, curta de tiragem (250 exemplares) e sem (qualquer) distribuição (comercial), tem a consequente divulgação restrita e poderá não chegar a todos os que se poderiam interessar por ela.

Por isso, também, e aproveitando a exposição alusiva que, depois de Moura, está agora patente na Feira de São Mateus, em Viseu, até 21 de Setembro, trago hoje, aqui, esta edição.

Começo pelos aspectos menos óbvios: por um lado a muito positiva indicação da data e local original de publicação da obra - Jornal do Exército (1980/82); por outro, lamentar que não tenham sido acrescentadas (pelo menos) mais quatro páginas, aproveitadas para uma entrevista com o autor e em que se mostrassem eventuais capas e/ou pranchas da versão original, para comparação com a presente, que foi remontada pelo autor e colorida e legendada por Catherine Labey - até para vermos se não teria sido mais interessante apreciarmos a arte original de Batista Mendes a preto e branco como algumas vinhetas dão a entender - embora tenha sido dele a opção pela cor, em momento anterior à publicação destes Cadernos…

Depois, mais importante, a obra em si que tem o mérito de fugir da versão tradicional padronizada da biografia do poeta para tentar de alguma forma desvendar os seus primeiros 25 anos, geralmente envoltos em mistério ou pelo menos esquecidos (ou escondidos) pelos biógrafos ‘oficiais’.

Obra de pendor clássico, com o traço realista rigoroso que reconhecemos a Batista Mendes, “A Vida de Luís Vaz de Camões” - já bem assertivamente subintitulada ‘...a mais desgraçada que jamais se viu.’ - é um bom exemplo da banda desenhada de caráter pedagógico e de recuperação histórica que durante bastante anos imperou no nosso país, com tudo o que isso implica, em termos de peso do texto escrito e do ritmo narrativo imposto, para mais porque, de forma bastante interessante, Baptista Mendes optou por, a par da descrição da biografia do poeta, ir fazendo sucessivas pontes entre a narração dos vários momentos da sua vida e os sonetos, poemas e outras criações artísticas que eles inspiraram.

Cadernos Moura BD #12 - Baptista Mendes
A Vida de Luís Vaz de Camões
Baptista Mendes
Câmara Municipal de Moura
Portugal, Junho de 2023
210 x 297 mm, 40 p., cor

(imagens disponibilizadas pelo editor Carlos Rico; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)