Tintin - Numéro spécial 77 ans

Evocação

A 26 de Setembro último, a revista Tintin - mais exactamente a sua versão belga, a original, espelhada durante décadas noutras paragens, Portugal incluído - completaria 77 anos, data significativa pela frase que lhe serviu de lema: ‘a revista dos jovens dos 7 aos 77 anos’.
A data e importância desse marco da banda desenhada, fica assinalado pela Le Lombard e as éditions Moulinsart com este regresso, pelo período de um único número, em que autores contemporâneos revisitam as séries da revista que mais os marcaram.

Em alguns casos, poucos, os heróis são retomados pelos seus criadores ou por autores que os continuaram, noutros o resgate é consumado por criadores que foram leitores das versões originais, e alguns chegam até a evocar a sua experiência de leitores; nalguns casos, as séries são renovadas gráfica e tematicamente, noutros os originais são evocados literalmente, em muitos casos são completamente revistos e alterados, geralmente com efeitos cómicos bem conseguidos; alguns autores centram a sua contribuição na própria revista original ou nos criadores primordiais, outros semeiam as suas páginas de piscadelas do olho e brincadeiras com os originais.

A publicação - a que me custa chamar revista dada a sua monumental dimensão - inclui ainda diversos artigos, longos e assertivos que contam, contextualizam e/ou questionam a história e as opções do título ao longo dos anos, ajudando a compreender as razões da sua longevidade e da sua influência e de ainda ser, hoje, um marco para gerações de leitores.

Num número obviamente desequilibrado - não o foram todos…? - a maior ou menor identificação, afinidade e familiaridade com as personagens - e os autores…? - também influencia a nossa capacidade de desfrutar ou não do que nos é proposto nesta imensa homenagem a um dos mais importantes títulos que a banda desenhada mundial já teve.

Pela minha parte, atrevo-me a indicar o (inacabado?!) Blake e Mortimer, de Van Hamme e Teun Berserik, (inevitavelmente) o Red Dust, de Hermann e Yves H., que curiosamente aponta uma nova justificação para a cena inicial da série, a inspirada aventura de 'Commandaine' nos meandros (literalmente) da banda desenhada, por Nicolas Juncker, o modo como Bouzard consegue demolir completamente Tounga, a bela e tocante bela homenagem de Nix a Franquin e aos seus Modest et Pompon e as sucessivas deambulações de Jérôme Moucherot, de Boucq, tentando vender seguros a Modest et Pompon, Ric Hochet, Bernardo Prince e Thorgall, bem como a sua proximidade (profissionalmente natural) com um certo Séraphin Lampion.

Esta última, aliás, juntamente com a impagável abordagem de Lewis Trondheim, constituem as duas únicas referências ao herói - inevitavelmente ausente… - que deu título à revista

Assim, entre nostalogia, paródia e homenagem, esta Tintin - Numéro spécial 77 ans revela-se uma viagem incontornável por uma herança incontornável da banda desenhada franco-belga.

Nota final

Para quem se distraiu ou já não conseguiu encontrar esta edição, fica a informação que uma versão em capa dura - naturalmente (10,00 €) mais cara - será lançada no próximo dia 3 de Novembro.

Tintin - Numéro spécial 77 ans
Vários autores
Le Lombard/éditions Moulinsart
Bélgica, Setembro de 2003
217 x 287 mm, 400 p., cor, capa cartão
29,9o €

(imagens disponibilizadas pela Le Lombard; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)