Publicada há dias, A Dama Pé de Cabra, sétima entrega da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, da parceria
Levoir/RTP, foi a primeira com autor único, pois Manuel Morgado, que habitualmente associamos ao género fantástico de feitiçaria e dragões, assina texto e desenhos.
A explicação para esta opção, está
nas suas respostas ao questionário modelo que tem sido enviado a
todos os autores desta colecção.
Manuel Morgado - Foi uma escolha minha. Com uma temática medieval de fantasia, não foi preciso pensar muito essa escolha. Após a leitura da obra original, deu para perceber que tinha um enredo que graficamente poderia resultar muito bem, com bastante acção e com um bom desenvolvimento de personagens.
As Leituras do Pedro - E a escolha do desenhador para a ilustrar?
Manuel Morgado - Desde que comecei a estudar a versão de Alexandre Herculano, optei por tentar este desafio de fazer tudo na obra, adaptar textos e a realização dos desenhos. Já há algum tempo que queria fazer esta experiência, e acho que esta foi a oportunidade certa para o tentar.
As Leituras do Pedro - Já conhecias a obra? O que trouxe adaptá-la?
Manuel Morgado - Conhecia a lenda mas a versão popular e não muito desenvolvida. Conhecia a personagem da dama e a lenda de uma forma muito simples, não especificamente a versão de Alexandre Herculano. A versão de Alexandre Herculano está muito bem estruturada, permitiu construir a BD de uma maneira mais acessível. Em suma, a obra conseguiu servir muito bem como um guião de BD, mesmo na sua forma completamente original.
Manuel Morgado - Os Lusíadas ou algo que tivesse como pano de fundo, os descobrimentos, sempre me fascinou esta temática.
As Leituras do Pedro - Como se adapta uma obras destas a BD? Quais as principais dificuldades?
Manuel Morgado - Uma das principais dificuldades na adaptação foi conseguir condensar toda a trama num número restrito de paginas. Ou seja, tive de cortar algumas cenas originais, acrescentar outras novas e misturar aqui e ali uma ou outra cena para conseguir um storytelling coeso e adaptado a uma estética mais “moderna” e para melhor funcionar como uma BD. Outra das dificuldades foi conseguir decifrar algumas palavras ou mesmo perceber sentidos de frases, visto o tipo de escrita original seguir uma formula que era usada no seu tempo, e conseguir perceber como é que palavras ou frases podiam significar o mesmo mas de uma forma mais contemporânea.
Manuel Morgado - O processo, foi ler a obra e conforme ia lendo, ia imaginando as páginas. A obra original tem já 3 actos definidos. Tendo este detalhe como ponto inicial, delimitei um certo número de paginas para cada acto e estruturei todas as cenas importantes a incluir nessas páginas, que não poderiam ser nem mais nem menos, e este foi o grande desafio da chamada adaptação, daí cortar ou incluir novas páginas. Depois, fui imaginando essas cenas graficamente adaptadas para uma leitura em BD e construí um storyboard tendo em conta já possíveis falas e descrições. Fiz primeiramente um storyboard completo para todas páginas. Só depois parti para a realização dos desenhos finais e depois reservei bastante tempo para a adaptação dos textos em si.
Manuel Morgado - Que os leitores se divirtam, que passem um bom bocado e que consiga despertar aquela curiosidade de virar cada página ao ler e ver a obra.
As Leituras do Pedro - Qual a importância de uma colecção como esta?
Manuel Morgado - A importância de conseguir manter e entreter e a importância de atrair novos leitores, de qualquer idade, mesmo leitores que não sejam leitores regulares de BD, e ajudar a não deixar cair no esquecimento estas obras tão ricas e fundamentais mesmo sendo estas BD adaptações.
(imagens disponibilizadas pela Levoir e por Manuel Morgado; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais s0bre os temas destacados)
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