Drogou-o, matou-o, meteu-o na arca
Numa
noite de verão, durante um festival... eu
matei o meu marido.In
O
meu marido dorme no congelador
Nana
conheceu Ryô há cinco anos
e está casada com ele há quatro. Mas Nana atingiu o ponto de
saturação: vítima de violência doméstica, cansada de apanhar por
tudo e por nada e de servir de objecto sexual, decidiu matá-lo. Uma
decisão longa e ponderada, atenuada pontualmente por mudanças no
comportamento do marido que, rapidamente, se desvaneciam.
Uma
noite, finalmente, avançou. Drogou-o, estrangulou-o e meteu-o numa
velha arca frigorífica esquecida na sua arrecadação, a aguardar o
momento certo para se livrar definitivamente do corpo.
Aliviada, passado o pico de adrenalina, Nana vai desfrutar de uma noite de sono reconfortante como há muito não tinha. Mas, ao acordar, vê diante de si o marido que supostamente assassinara, embora o seu corpo continue no congelador.
Começa assim O meu marido dorme no congelador, um manga de Hyaku Takara que adapta um romance de sucesso de Misaki Yazuki, que também originou uma série televisiva. A versão portuguesa tem a chancela de A Seita e compila - e muito bem - num único volume os dois tomos originais, nos quais a narrativa no presente vai alternando com a dos dias em que Nana e Ryô se conheceram e o seu relacionamento se foi desenvolvendo até chegar ao ponto em que o relato arranca.
O traço de Takara, fino e elegante e a sua planificação ampla e dinâmica, proporcionam uma leitura leve mas absorvente, que prende o leitor página após página, curioso por ser esclarecido e também pendente da aparente mudança de comportamento de Ryô.
Aos dois protagonistas, as autoras vão acrescentar a mãe de Nana, uma vizinha atiradiça e Kamata, um amigo de Ryô e antigo pretendente da jovem, que, cada um à sua maneira e por motivos diversos, vão antever a explicação que Nana só descobrirá mais tarde.
O meu marido dorme no congelador, partindo de uma situação chocante que, infelizmente, continua actual na nossa sociedade, apresenta-se como uma narrativa de suspense psicológico, chocante e até incómoda pelo modo que Nana vai utilizar para se livrar do corpo, e vai-se desenvolvendo num crescendo, até atingir o clímax e, depois, com os leitores já aliviados, proporcionar uma última, desconcertante e de todo inesperada surpresa.
O
meu marido dorme no congelador
Hyaku
Takara segundo Misaki Yazuki
A
Seita
Portugal,
Setembro de 2024
127
x 180 mm, 384
p., pb,
capa mole
18,99
€
(versão revista e aumentada do texto publicado na página online do Jornal de Notícias a 2 de Maio de 2025 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas por A Seita; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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