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17/07/2009
La Théorie du Grain de Sable – Tome 2
La Théorie du grain de sable – Tome 2
François Schuiten (desenho) e Benoit Peeters (argumento)
Casterman (França, Setembro de 2008)
300 x 204 mm, 120 p., preto, branco sujo e branco, capa com badanas
Resumo
Neste segundo tomo de ”La Théorie du Grain de Sable/A teoria do grão de areia”, Schuiten e Peeters unem as pontas que foram espalhando no primeiro tomo, para darem uma conclusão lógica aos acontecimentos que começaram a ter lugar em Brusel, a 21 de Julho de 784: o aparecimento, vindos do nada, e a posterior acumulação de grãos de areia num apartamento e de pedras de peso constante (6793 gramas, um número primo) noutra casa ou na progressiva perda de peso, sem que no entanto emagreça, por parte de um chefe de cozinha, com os quais nos levaram a reencontrar anteriores personagens das Cidades Obscuras, como Mary Von Rathen (de "L'enfant penchée") e Constant Abeels (de "Brusel").
Desenvolvimento
Foi longa a espera – de apenas um ano, na verdade, pois foi esse o intervalo entre os dois tomos na versão original francesa - mas a curiosidade era grande após a leitura do tomo 1. E o mínimo que se pode dizer é que a expectativa não foi iludida, quer pelo final inesperado, quer pelo toque tão místico que Schuiten e Peeters dão à conclusão desta história.
A partir dos estranhos fenómenos a que Brusel assistiu, com uma fina ironia mas de forma consistente, os autores desenvolvem uma narrativa de contornos ecológicos sobre a confrontação – melhor, sobre as confrontações, cada vez em maior número, cada vez mais inevitáveis nos nossos dias – entre a civilização urbano e ocidental, com factores estranhos - nem melhores, nem piores, só diferentes - ou desconhecidos, provenientes de outros mundos, outras realidades, outras civilizações. Uma antevisão poética, talvez, mas mesmo assim criadora de dúvidas e receios legítimos, sobre o confronto ocidente/oriente, que muitos analistas consideram inevitável, e que poderá tomar muitas formas… No caso presente, os pequenos grãos de areia surgidos do nada que vão emperrar – e quase destruir - a máquina – nem sempre bem oleada, admita-se – que faz funcionar a grande metrópole de Brusel.
Pelo caminho, pelos vários caminhos que como todos os seus álbuns também este tem – e esta minha leitura, não é mais do que isso, a minha leitura – aproveitam para homenagear o belga Victor Horta e a sua arquitectura arte-nova, representada pela sua Maison Autrique, sem dúvida personagem importante do relato, dado o lugar central que ocupa até ao seu misterioso desaparecimento e pelo seu posterior reaparecimento surpreendente, que deixo aos leitores descobrir.
Ao mesmo tempo que convido também a reverem o traço sumptuoso de Schuiten, magnífico no preto e branco sujo, pintalgado de um branco forte, aqui perturbante, ali luminoso, além revelador, no traço fino e detalhado, na utilização de sombras, manchas de negro e de fabulosos contrastes de claro/escuro, no tratamento da figura humana quanto na representação de edifícios ou de paisagens naturais, na forma como a planificação, variada e heterogénea conduz o ritmo da narrativa, condiciona a nossa leitura e nos leva numa viagem inesquecível por este universo fantástico.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no BDJornal #24, datado de Outubro de 2008)
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