16/07/2009

A teoria do grão de areia - Tomo 1

A teoria do grão de areia - Tomo 1 Benoit Peeters (argumento) e François Schuiten (desenho) Edições ASA (Portugal, Junho de 2009) 300 x 204 mm, 112 p., preto, branco sujo e branco, capa com badanas Resumo Uma série de acontecimentos insólitos, aparentemente sem ligação entre si, leva Mary Von Rathen, “coleccionadora de fenómenos inexplicáveis”, até Brusel, para os investigar. Desenvolvimento Universo fantástico, só possível em BD, paralelo ao nosso, com múltiplos pontos de contacto, referências ou desenvol-vimentos, combinando presente, passado e futuro e dotado de cidades (quase) com vida própria - as verdadeiras protagonistas de cada livro - onde se distinguem alguns habitantes, atentos ou desencadeadores dos pormenores que despoletam cada história, a série "As cidades obscuras", associa o traço sumptuoso - mas extremamente legível e funcional - de François Schuiten, que cria e recria arquitecturas e mundos, e os argumentos inteligentes, ao mesmo tempo profundos e claros, de Benoit Peeters. Neste álbum, que começa com alguns factos insólitos aparentemente sem interligação, mas que se vão acentuando com o passar do tempo - a morte por atropelamento de um estrangeiro de aspecto bárbaro, a acumulação regular de grãos de areia num apartamento e de pedras de peso constante (6793 gramas, um número primo) noutra ou a progressiva perda de peso, sem que no entanto emagreça, por parte de um chefe de cozinha - mostrando o perigo do aumento descontrolado de pequenos problemas de fácil solução na sua origem, Peeters e Schuiten constroem uma fábula ecológica que alerta para os perigos do aquecimento global, ao mesmo tempo que mostram que o que vem de fora (da Europa comunitária…) não tem que ser obrigatoriamente mau, só porque é diferente. Nele, reencontramos a (já não) pequena Mary Von Rathen (de "A menina inclinada"), chamada de Phâry para conduzir o inquérito sobre os estranhos acontecimentos, e Constant Abeels (de "Brusel"), anos depois das histórias que (co-)protagonizaram, que vão ser observadores privilegiados dos insólitos fenómenos que dão um toque de fantástico, até aqui praticamente ausente na série, e que contrasta com o traço hiper-realista com que Schuiten, a pincel, construiu os cenários, e pontuam a acção deste livro, em formato italiano (deitado), que marca o regresso ao preto e branco (e branco - puro, uma "terceira" cor, de que só os leitores e Mary se apercebem, mas cuja mancha vai crescendo página a página), numa obra que reafirma a vontade de Schuiten e Peeters inovarem constantemente, pondo sempre em causa todas as soluções anteriormente experimentadas nas Cidades Obscuras e questionando continuamente o universo que criaram. A reter - O traço primoroso de Schuiten. - O desenvolvimento em crescendo do ritmo da narrativa, paralelo aos efeitos dos fenómenos em Brusel. - A forma como é utilizada a cor “branca”, a par do preto e do branco sujo, para acentuar os fenómenos fantásticos que dão o mote à história. - A bela edição da ASA, em tudo fiel à original. Menos conseguido - O único senão a apontar é o facto de este ser o primeiro de dois tomos, restando-nos aguardar pelo segundo, que está prometido até final do corrente ano. Com impaciência.

Curiosidade

- A edição à venda na FNAC é acompanhada do “DVD de Presse” francês, que inclui um documentário sobre o making-of do álbum. (Versão revista e actualizada do texto publicado a 11 de Julho de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

4 comentários:

  1. Caramba! Parece muito interessante! Vou querer esse ai! Infelizmente ainda não tenho "A menina Inclinada" da Meribérica, mas só vejo elogios à dupla! Parabéns pela resenha, Pedro!

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  2. Olá Audaci! Esta é uma das minhas séries preferidas e cada novo álbum traz sempre novas e surpreendentes propostas. Aconselho todos vivamente!

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  3. Pedro, meu amigo, acabei de ler o Tomo 2 de A Teoria do Grão de Areia. Que grande história! Tanto em texto, quanto em arte.

    E para quem leu A Menina Inclinada, então, o prazer ao chegar ao final é ainda maior.

    Sem dúvida, uma das melhores leituras que tive no ano.

    Abraço

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  4. Olá amigo Sidney!
    Que honra recebê-lo aqui!
    Na verdade, Schuiten e Peeters nunca desiludem e não é difícil encontrar obras deles numa lista dos melhores álbuns de sempre!
    Foi pena não ter vindo este ano ao Amadora BD, porque havia uma excelente exposição sobre As Cidades Obscuras com originais fantásticos do Schuiten.
    Um grande abraço!

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