Acalmada
a poeira mediática, feitas juras de amor assolapadas e destilados
ódios e preconceitos, é a altura para mim de voltar a Astérix
na Lusitânia. Ou, melhor, a Astérix en Lusitanie,
na imponente versão de luxo.
Costuma
dizer-se que o importante não é a história que se conta mas sim a
forma como é contada. E, em A
cor das coisas,
de Martin Panchaud, que a Levoir editou no recente Amadora BD,com
a presença do autor em Portugal, sem dúvida o destaque é a forma
como ele narra.
Aceite
o pressuposto que balizou o meu texto sobre o primeiro volume de A
bela casa do lago
- que é como quem diz, lido (com prazer) esse desafiador tomo
inicial - o segundo volume apresenta-se como um passo em frente, com
sucessivas revelações. Obviamente, podemos olhar para ele como um
copo meio cheio ou meio vazio. A nossa sensibilidade de leitores - e
as nossas expectativas - ditarão o nosso olhar.
Conheço
(a obra de) Maurício
de Sousa possivelmente desde que comecei a ler.[O
meu pai, comprava para mim o Mundo
de Aventuras
e, para a minha irmã, a
Mônica
e outras revistas da
Turma.]
Conheci Maurício de Sousa em 2006, quando tive oportunidade de o entrevistar aquando de uma passagem pelo Amadora BD. Descobri então o homem por detrás da obra. Uma pessoa simples e acessível, afável e de enorme simpatia, mas também um visionário e um grande empreendedor.
Sou
um anjo perdido,
em edição portuguesa da Arte de Autor, é um belo e longo passeio
pela memória. Na
sua origem e
a terminar, pela memória, as memórias, do autor, Jordi Lafebre. A
terminar, porque é no posfácio que Lafebre confessa os seus medos
de infância e adolescência na sua Barcelona natal, que lhe serviram
de ponto de partida para este relato que tem aquela cidade como
cenário e personagem de relevo.
Os
tempos mudam (dizem alguns...), a tecnologia atinge um nível que há
poucos anos era inimaginável, assistimos a avanços em diversas
áreas mas... o ser humano continua igual. Fanatismo
religioso (e político), intolerância, ignorância, desrespeito pela
opinião dos outros são temas actuais que, no entanto, não diferem
assim tanto dos que imperavam há 100 ou 200 anos. É pelo menos o
que depreendemos da muito aconselhável leitura de Undertaker
8 - O mundo segundo Oz,
edição recente da Ala dos Livros que fecha (?)no quarto díptico (com um final suficientemente aberto para o transformar num tríptico?) de um
dos melhores westerns
que a BD conheceu, iniciado em Mister Prairie.
As
editoras e, de forma incontornável, os autores também, gostam de
sequelas, prequelas e relatos paralelos de séries de sucesso.
Garantem mais vendas, mais lucros, mais mediatismo Por
outro lado, os leitores também gosta de sequelas, prequelas e
relatos paralelos das séries que mais apreciam. Permitem-lhes
conhecer o passado, antever
o futuro, conhecer a origem ou o fim das personagens que admiram. O
seu sucesso é quase sempre certo, muitas vezes até independente da
inspiração dos seus criadores, sejam eles os mesmos ou outros.
Se
há mérito que se deve apontar à banda desenhada, é a forma como
se tem sabido reinventar ao longo dos tempos. Nascida 'cómica',
enveredou pela aventura, procurou outros suportes para lá dos
jornais que lhe assistiram ao parto, inventou super-heróis, virou
alternativa, aventurou-se por relatos de grande extensão, aborda
temáticas actuais, controversas, desafiadoras. Em
suma, ousou experimentar, fazer-se diferente, recriar-se, não só
temática mas também graficamente. Não
passando de uma excepção a regras criadas para serem quebradas ou
contornadas, Corpo
de Cristo,
uma edição recente da Iguana, espelha muito do que fica atrás
escrito.
Sabemos
tanto e ao mesmo tão pouco sobre Fernando Pessoa, o escritor, o
poeta, o homem, a face visível de tantos heterónimos, que todos os
delírios e suspeições são legítimos.
Há
diferenças palpáveis entre escrever um livro com o coração ou com
a razão. É
o caso de Alix Garin, que me tinha emocionado com Não
me esqueças,
e que no regresso com
Impenetrável,
apresenta uma narrativa mais didática e racional,
o que não é equivalente a que a obra seja menos interessante. Mas,
para mim, falta-lhe a força da emoção.
Está
finalmente
disponível
em português,
numa belíssima edição de A Seita, o segundo e último volume de A
Fera
que, na edição lusa, traz como extras uma história curta e um
passeio guiado e ilustrado pela Bruxelas de Frank Pé, que desvenda
alguns dos segredos e referências que espalhou pela história - e
que permitem, justificam até, uma segunda leitura atenta aos
pormenores e não ao fundamental.
A cerimónia de entrega dos troféus aos vencedores dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora teve lugar no passado domingo e o palmarés completo está disponível já a seguir. Também podem ler a notícia alusiva aqui.
"Astérix
na Lusitânia", o álbum que os portugueses há tanto tempo
aguardavam, chega esta quinta-feira às livrarias de todo o mundo com
uma tiragem recorde: cinco milhões de livros. A
notícia completa pode ser lida aqui e na edição em papel de hoje.
Peças,
já nas livrarias em edição portuguesa da Ala os Livros, é uma
analogia entre o jogo de xadrez e a vida, a um tempo desafiadora e
provocadora, que, se por um lado nos reduz à nossa insignificância,
por outro nos mostra como todos somos relevantes como integrantes de
uma realidade maior, mesmo que poucos de nós cheguemos a ser 'reis'
ou 'rainhas'.
É
sempre fascinante saber o que os heróis julgam
que a bondade é
Não
fui confirmar mas quase de certeza que já escrevi a propósito desta
colecção - e a declaração é extensível a outras... - que a
maior ou menor empatia que temos com o (super-)herói que protagoniza
cada volume, torna mais interessantes ou menos aliciantes estas
narrativas curtas.