"Como achas que o mundo vai acabar?"
À partida, o resumo de A bela casa do lago evoca muitos daqueles filmes juvenis de terror, em que um grupo de amigos - conhecidos ou quase nem isso... - se reúne numa casa incrível, junto a um belo lago, por iniciativa de quem os mantém juntos. Neste caso, Walter.
Começando a leitura com este pressuposto - leia-se de pé atrás - se por um lado baixa as expectativas, por outro lado torna o leitor mais susceptível a ser surpreendido pelo desenvolvimento. Isto porque, pouco depois lá chegarem, são confrontados - e chocados - com a notícia de algo horrível que está a acontecer: ...
[E aqui o leitor tem de dar um salto de fé e aceitar o pressuposto que os argumentistas criaram; caso contrário, muitos pousarão o livro e passarão ao lado de uma proposta desafiante.]
...o mundo acabou, numa espiral de fogo, os seres humanos morrem - derretem, literalmente - por toda a parte, e os únicos sobreviventes são aqueles oito jovens confinados naquela propriedade de sonho, que se mantém intacta, apesar do apocalipse que teve lugar a nível planetário. Oito, porque Walter já não está lá - pelo menos fisicamente - após uma revelação que deixou todos - os amigos e nós - boquiabertos.
Assumido este ponto de partida - com o tal salto de fé, para conter a surpresa (e a desilusão?) de uma narrativa balizada por vectores diferentes dos expectáveis à partida - o relato vai levar a que cada um daqueles jovens procure no seu passado comum (com Walter), no presente, em si mesmos e/ou nos outros, respostas e soluções para conseguirem viver num local cada vez mais misterioso, onde aparece tudo o que é necessário para a sua sobrevivência - e mais do que isso. Porque, após uma período de desorientação e desnorte, aos poucos vão recuperando o auto-controle e partir à procura das muitas respostas que faltam, tentando negar a explicação mais simples e mais óbvia, mas também a mais catastrófica.
Entre estabelecer os relacionamentos a que a situação obriga, procurar as forças para a enfrentar e tentar seguir em frente, num lugar em que não falta nada, falta possivelmente o mais importante de tudo: a possibilidade de poder optar por ficar ou ir embora.
Num relato cuja estrutura e opções gráficas contribuem para o crescente adensar da tensão, desconfiança e mesmo medo que vão escalando no seu decurso, incontornavelmente, a pergunta que ganha força e relevância ao longo das páginas é: 'Quem - o que? - é realmente Walter', pergunta essa que se mantém nas nossas mentes para lá da última página do livro que nos deixa sem respostas e expectantes pelo volume seguinte que se deseja que não demore.
A
bela casa do lago
James
Tynion IV (argumento)
Álvaro
Martínez Bueno (desenho)
Devir
Portugal,
Abril
de 2025
190
x 280
mm, 160
p., cor,
capa dura
20,00
€
(imagens disponibilizadas pela Devir; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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