Oito anos depois da animação O Segredo da Poção Mágica e dois anos após o live action O Império do Meio, Astérix regressou aos ecrãs na Netflix, no passado dia 30 de Abril.
Trata-se de uma mini-série de cinco episódios que adapta livremente O Combate dos Chefes, o sétimo álbum da série, datado de 1966. São cerca de três horas de película em animação 2,5 D, escrita por Alain Chabat et Benoît Ouillon, que mais uma vez demonstram a sua compreensão do espírito da série e das personagens e do seu humor característico. Chabat, que já se tinha distinguido com Missão Cleópatra (2002) também assina a realização em parceria com Fabrice Joubert e ainda dá voz a Astérix na versão original. Nesta, a par de Gilles Lellouche (Obélix), Anaïs Demoustier (Metadata) e Thierry Lhermitte (Panoramix). Na versão nacional, da responsabilidade do Estúdio de dobragem On Air - NP3, Manuel Marques e Eduardo Madeira dão voz aos dois amigos gauleses, Rita Tristão à jovem e Carlos Vieira de Almeida ao druida. Resta saber se, no final, vamos parafrasear uma criança que ao sair de uma das versões cinematográficas de Tintin afirmou: "no livro o Tintin não fala assim".
A base da versão em BD, é um desafio colocado por um chefe rendido à civilização romana a Matasétix, chefe dos gauleses irredutíveis, com base numa antiga tradição que entrega a chefia das duas tribos ao vencedor de um combate singular. Para garantir a vitória do seu apoiante, os romanos decidem tirar Panoramix do caminho - e com ele a poção mágica. As coisas não correm como planeado mas o resultado é o mesmo: atingido por um menir lançado por Obélix, o druida fica amnésico e incapaz de se lembrar da receita da bebida que torna os gauleses invencíveis.
Na série televisiva, como fruto dos tempos que correm, há um aumento consequente da figuração feminina e até a introdução de três personagens novas: a jovem Metadata que invoca a tradição gaulesa perante César, a mãe deste último e uma druida gótica. Estranhas à banda desenhada original, nenhuma delas é muito convincente, em especial a última e também não acrescentam nada de significativo ao enredo, embora possam contribuir para dar um tom mais familiar a esta produção.
Os apreciadores de Astérix irão divertir-se a descobrir as referências a outros álbuns das aventuras do pequeno guerreiro gaulês, a mais evidente dos quais, o primeiro episódio, quase totalmente inspirado em Como Obélix caiu no caldeirão do druida quando era pequeno, que tem o senão de atribuir ao companheiro de Astérix a descoberta acidental da receita da poção mágica, para mais com dois ingredientes que Panoramix referiu apenas como elementos para dar sabor em diferentes álbuns de BD.
O dividir a história por quatro episódios - vamos considerar o primeiro um introito - acaba por a esticar demasiado e criar alguns momentos mortos, mas globalmente é uma série bem ritmada e com bons momentos de humor. O principal aspecto negativo é a alteração de um pormenor fundamental relacionado com o combate,que deturpa de forma significativa o espírito da narrativa original, que acaba por ser recuperado, embora por portas travessas.
Aproveitando a estreia na Netflix, a ASA editou no mês passado uma versão especial de O Combate dos Chefes, com 16 páginas extra que revisitam e contextualizam a publicação original da BD na revista Pilote e em álbum na década de 1960 e exploram a produção da mini-série animada.
Astérix:
O Combate dos Chefes
Realização: Alian Chabat e Fabrice Joubert
Netflix,
2025
Astérix:
O Combate dos Chefes
Gosvinny
e Uderzo
ASA
Portugal,
2025
225
x 297 mm, 64 p., cor, capa dura
11,50€
(versão revista e aumentada do texto publicado na página online do Jornal de Notícias da 3 de Maio de 2025 e na edição em papel do mesmo dia; imagens disponibilizadas pela ASA e pela Netflix; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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