Mais do que só um western
Descobri Michel Masiero em Mister No: Revolution e, desde então tenho de alguma forma tentado acompanhar a sua escrita pelo modo como conseguiu, naquele caso concreto, reinventar numa outra época os momentos determinantes da vida da personagem Mister No.
Até agora não me tenho dado mal e Hollywoodland e Deadwood Dick foram outras leituras compensadoras; este Cheyenne confirmou a boa opinião que tenho do argumentista.
Argumentista este que, fundamentalmente, tem sabido reinventar os temas que aborda. No caso presente estamos perante um western tradicional. O ponto de partida vai ser (reparem no tempo do verbo) o ataque de um bando de índios cheyenne a uma carroça de brancos, matando os dois ocupantes adultos e raptando um pequenito ainda bebé.
O miúdo crescerá no seio da tribo, até ao dia em que um ataque de soldados - deveria ter escrito massacre - termina com o cumprimento de objetivo inicial: recuperar a criança branca.
As consequência iniciais do rapto no seu avô e a (re)adaptação posterior do miúdo ao modo de viver 'civilizado' dos brancos, na prática uma nova realidade que já não é - que na verdade nunca foi - sua, serão os pontos fortes de uma narrativa que parece banal e já várias vezes ouvida, mas que se destaca de outras similares pela forma como Masiero a montou, com sucessivos saltos ao passado e ao futuro, em lugar de utilizar uma linha condutora cronologicamente estável. Dessa forma, vamos recebendo fragmentos do relato que temos de montar mentalmente para conseguir ficar com todo o retrato ponto visível, muito bem trabalhado por um preto e branco realista e contrastante de Fabio Valdambrini.
Esta opção, torna a leitura mais exigente e, por isso, mais satisfatória. Para além disso, é uma história sobre inadaptação, sobre recusa da realidade e sobre auto-compaixão, sobre recusa da diferença e não-aceitação dos outros, que torna mais humano um conto original com a base histórica que se lhe reconhece, da progressiva expulsão dos índios dos territórios que lhes pertenciam e do avanço civilizacional - se é que é este o adjetivo mais adequado para os brancos e a sua forma de agir.
Cheyenne
História
originalmente publicada em Romanzi
a Fumetti #34 (SBE,
Itália, 2017)
Michelle
Msiero
(argumento)
Fabio
Valdambrini
(desenho)
Editora
85
Brasil,
Julho de 2023
160
x 210 mm, 288 p., pb,
capa cartão com badanas
49,90
R$
(texto previamente publicado no Tex Willer Blog a 7 de Junho de 2025; capa brasileira disponibilizada pela Mythos Editora; restantes imagens disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
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