Num catálogo celebrizado pelo western - com Tex à cabeça, claro, mas também com Ken Parker, Zagor, Mágico Vento… - a Sergio Bonelli Editore propôs mais recentemente Deadwood Dick - agora em edição da Panini espanhola - que, aparte a temática comum, difere em tudo das restantes séries citadas, ou não fosse protagonizado por um negro, sendo negro também o humor que a caracteriza.
Deadwood
Dick
é uma adaptação das novelas do escritor norte-americano Joe R.
Lansdale, objecto de uma longa entrevista publicada no dossier que
encerra este livro.
A
sua acção decorre no período subsequente à Guerra Civil
norte-americana, que terminou com a vitória do Norte sobre o Sul e -
teoricamente... - com o fim da escravidão e da discriminação dos
negros e inspira-se - muito livremente - em acontecimentos da vida
de Deadwood Dick, aliás Nat Love, alguém que viveu naquela época.
O
seu protagonista é um negro - com
plena consciência do seu estatuto e das consequências que tal facto
lhe acarreta -
que, após um mal-entendido, é obrigado a fugir para não ser
sumariamente linchado (por brancos). Após
um encontro com Cullen, outro negro em busca de rumo para a sua vida,
acabam
por se alistar no exército, num esquadrão inteiramente composto por
negros - embora comandado por um branco...
A
aprendizagem do novo ofício, entrecruzada com acontecimentos do
passado e pesadelos recorrentes, que no seu conjunto ajudam a definir
o momento presente e a conhecer a personalidade de Deadwood Dick,
vai-nos sendo apresentada numa narrativa feita muitas vezes em off,
na primeira pessoa, de forma mordaz e irreverente, não se furtando o
protagonista a comentários provocadores ou mesmo a questionar o
leitor. Este tom (negro)
bem-humorado que o livro assume, não inibe os autores de incluírem
sexo e (principalmente) violência sempre que acham necessário, o
que contribui para acentuar um tom mais
pesado da narrativa.
Magnificamente
desenhado por Corrado Mastantuono - cuja arte, soberba
no uso de fortes contrastes a
branco e negro merecia ser apreciada sem cores, tal como foi
inicialmente publicada (e mostro abaixo) - e com a questão do
racismo sempre em fundo - o que não significa que esta seja uma
leitura para levar demasiado a sério - vamos acompanhando o
quotidiano fastidioso daquela companhia militar, numa zona deserta e
pacífica, onde os índios raramente se deixam ver. Em termos de
construção, uma
referência para a boa gestão do ritmo imposta ao livro que, pelo
facto de abrir com uma situação limite, em que o protagonista está
prestes a ser morto por um pele-vermelha, e cujo desfecho apenas
conheceremos dezenas de páginas mais tarde, provoca uma maior
apetência pela leitura, durante a qual Deadwood Dick dificilmente
deixará de conquistar os leitores, sejam eles apreciadores ou não
de bons westerns.
Deadwood
Dick: Negro como la noche, rojo como la sangre
Baseado
na novela Soldierin, de Joe R. Lansdale
Michele Masiero (argumento)
Corrado Mastantuono (desenho)
Panini Comics
Espanha, 26 de Setembro de 2019
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa
dura
ISBN:
9788491678885
17,00 €
Caro Pedro, onde comprar este belo lançamento da Bonelli?... Seja a versão espanhola colorida, seja a versão original a preto e branco?...
ResponderEliminarUm abraço,
Rui Sousa
Caro Rui Sousa,
EliminarEm Portugal, só através da Dr. Kartoon (a edição espanhola colorida).
Fora isso, as habituais formas de encomendar, directamente às editoras ou através de livrarias online.
Boas leituras!