Religiosamente
Mesmo
em tempos em que o tempo escasseia e a pilha de livros para ler
parece tocar o céu, há álbuns que como
movidos pelo maligno, ignoram prioridades estabelecidas e
saltam para o seu topo.
Undertaker,
que desde o seu inicio, antes até da edição portuguesa, sigo religiosamente - pelo menos na
óptica do evangelho segundo Jonas Crow - é um desses casos.
E a cada novo álbum, essa minha religiosidade parece ganhar auras de fanatismo, tanto e tão bem Dorison e Meyer têm sabido construir a série e as suas personagens, tornando-as consistentes, credíveis e tão interessantes, num tempo em que a miséria, o ódio e a vingança imperavam.
Em Mister Prairie, isso aconteceu-me mais uma vez. Como ponto de partida, a busca de Rose por Jonas, convencido de ter cometido o maior erro da sua vida ao deixá-la partir. Depois, como sempre, as circunstâncias, as coincidências e o inesperado impõem a sua lei e Jonas, tal como os leitores - talvez mais estes do que aquele - de surpresa em surpresa, de desilusão em desilusão, vão cair de cabeça no meio de uma história sórdida em que aborto, violação (?), homossexualicade e traição conjugal, vão ser condenados em alta voz e publicamente, pela Sister Oz, a enviada do Senhor (dela).
Com o cinismo e o olhar duro habituais, a meio de muita violência, em que a física, mesmo abundante, nem é a mais relevante, Jonas Crow, em nome de Rose, vai mergulhar num autêntico inferno alimentado a fanatismo e medo, numa crua exposição do pior do ser humano quando acredita agradar a Deus, cumprindo apenas a parte da Bíblia que defende a vingança e a punição, esquecendo a mensagem principal de amor e perdão.
Após uma leitura que se fez intensa e a toda a brida, tal como as cavalgadas noturnas ou os confrontos tensos que Dorison e Meyer tão bem encenam e narram, a verdade é que no final apenas apetece rogar-lhes uma praga ou soltar-lhes uma maldição, por nunca terminarem a história num só álbum, ou não trabalharem duas vezes mais depressa para termos de uma só vez a narrativa completa e não ficarmos em dura penitência a rezar pela chegada do tomo seguinte.
Undertaker
#7:
Mister
Prairie
Xavier
Dorison e Ralph Meyer (argumento)
Ralph
Meyer (desenho)
Ralph
Meyer e Caroline Delabie (cor)
Ala
dos Livros
Portugal,
Abril
de
2024
235
x 310 mm, 64
p., cor, capa dura
18,50
€
(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as apreciar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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