É sempre fascinante saber o que os heróis julgam que a bondade é
Não fui confirmar mas quase de certeza que já escrevi a propósito desta colecção - e a declaração é extensível a outras... - que a maior ou menor empatia que temos com o (super-)herói que protagoniza cada volume, torna mais interessantes ou menos aliciantes estas narrativas curtas.
No caso presente é o Homem-Aranha, na versão fato preto - na sua aceitação plena ou na sua recusa intensa, com uma enorme extensão entre aquelas duas posições extremas. E sabendo eu apenas o essencial sobre a questão do fato preto - que, refira-se de passagem, permitiu um interessante trocadilho no título base da coleção, mais feliz até em português do que no original norte-americano - esse conhecimento prévio de Peter Parker e do seu alter-ego permitiu-me (re)descobrir o que me atraiu desde sempre no Homem-Aranha: e que é, obviamente, o seu lado mais humano, em muitas destas histórias curtas em claro choque com o carácter amoral e violento do simbionte que o domina. Por isso, o Peter Parker vestido de negro se torna tão diferente e distante do de vermelho e azul que melhor conheci e acompanhei intermitentemente, mas isso permite também que percebamos a sua opinião sobre conceitos como justiça, bondade, empatia...Também por isso, no entanto, esta versão negra - literal e figuradamente - do herói levanta igualmente outras questões interessantes, a mais premente das quais é até que ponto se deve ir para fazer justiça? Ou, por outras palavras, até onde pode o nosso julgamento pessoal substituir-se ao julgamento institucional previsto nas leis de um país?
A resposta não é simples - quantas vezes, em pequenos e grandes momentos, quisemos nós também passar ou passámos essa linha? - e os vários momentos em que Peter Parker, dominado - mais ou menos involuntariamente (?) - pelo simbionte, se deparou com a questão, mostra como este tipo de decisões é tão difícil de tomar, especialmente quando os sentimentos - raiva, frustração, vingança... - se sobrepõem à razão.
Como habitualmente nesta colecção, as abordagens, do ponto de vista gráfico e temático, vão do mais institucional a liberdades relativamente amplas - não deixa de ser a utilização de personagens Marvel - o que ajuda a diversificar um volume que deve ser consumida de forma moderada ao longo de vários dias, para maior fruição.
Homem-Aranha:
Fato
preto
&
sangue
Inclui
Spiderman:
Black
suit &
Blood #1-#4 (EUA, 2024)
Vvaa
G.
Floy
Portugal,
Julho
de 2025
180
x 275
mm, 152
p., pb
e vermelho,
capa dura
23,00
€
(imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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